A mais de cinco mil quilômetros de distância, dois ecossistemas que parecem não ter nada em comum estão profundamente ligados por um fenômeno impressionante da natureza. Todos os anos, ventos poderosos varrem o Deserto do Saara, na África, levantando nuvens gigantescas de poeira — e parte dessa poeira cruza o oceano Atlântico até pousar na Floresta Amazônica, na América do Sul. O que parece apenas um espetáculo atmosférico é, na verdade, um processo vital que mantém viva a maior floresta tropical do planeta.

Estima-se que cerca de 180 milhões de toneladas de poeira saiam do norte africano anualmente, sendo que aproximadamente 27 milhões de toneladas chegam até a Amazônia. Essa poeira é rica em fósforo e ferro, minerais essenciais para o crescimento das plantas e que estão em falta nos solos amazônicos, desgastados por milhões de anos de chuvas intensas. Em outras palavras, o deserto mais seco da Terra é o responsável por “fertilizar” uma das regiões mais exuberantes e úmidas do mundo.

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Foto: National Geographic

Grande parte dessa poeira vem da Depressão de Bodélé, no Chade, uma antiga área lacustre que, há milhares de anos, abrigou um vasto lago repleto de vida microscópica. Os restos fossilizados desses organismos formaram uma camada extremamente rica em nutrientes, que hoje é levada pelos ventos saarianos. Quando essa poeira atravessa o Atlântico, ela carrega consigo o fósforo que as árvores amazônicas precisam para crescer — um verdadeiro “adubo natural” vindo do outro lado do planeta.

Mas o impacto desse fenômeno vai muito além da fertilização da floresta. As partículas de poeira também influenciam o clima global, interferindo na formação de nuvens, na absorção de radiação solar e até nos padrões de chuva sobre o Atlântico e a América do Sul. Cientistas alertam que mudanças climáticas e alterações nos ventos africanos podem afetar essa rota natural de transporte, com consequências imprevisíveis para o equilíbrio ecológico da Amazônia.

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A Amazônia em números - Imazon

Foto: Reprodução

O ciclo que conecta o Saara à Amazônia é uma das demonstrações mais impressionantes de como o planeta funciona como um sistema único e interdependente. O que começa como uma tempestade de areia em um deserto africano termina como uma chuva de vida sobre a floresta sul-americana — uma lembrança poética de que, na Terra, até os extremos se completam.

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