Uma história improvável, que começou como uma curiosidade nas redes sociais, acabou se transformando em um dos episódios mais bizarros do ano no Reino Unido. Um grupo autodenominado “Reino de Kubala”, que dizia representar uma “tribo africana renascida”, foi retirado à força de uma floresta no condado de Scottish Borders, na Escócia, após semanas vivendo em um acampamento improvisado.

Kingdom of Kubala: The Africans claiming Scotland as their 'ancestral home' - TRT Afrika

Fotos; Reprodução/TRT Afrika

A comunidade era formada por três pessoas: Kofi Offeh, 36 anos, que se autoproclama “Rei Atehene”; Jean Gasho, 43, que se apresenta como “Rainha Nandi”; e Kaura Taylor, 21, chamada de “Asnat”, descrita pelo casal como sua “serva”. O trio instalou-se inicialmente em terras privadas próximas à cidade de Jedburgh, onde alegavam estar reconstruindo uma “nação espiritual africana roubada pelos colonizadores há séculos”. Após receberem uma ordem de despejo por ocupação ilegal, atravessaram uma cerca e montaram novo acampamento em um terreno público vizinho — o que provocou a intervenção das autoridades locais no início de outubro.

Segundo o conselheiro municipal Scott Hamilton, a ação foi necessária para restaurar a ordem e devolver a área à comunidade. “O local está sendo limpo. Foi uma operação tranquila e positiva para todos os envolvidos”, afirmou à imprensa britânica.

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Immigration officers arrest 'African tribe' members in Scottish woodlands

Fotos: Reprodução

Durante a remoção, Jean Gasho filmou tudo e publicou vídeos nas redes sociais, afirmando que estavam sendo expulsos de terras que, segundo eles, “pertencem aos ancestrais africanos tomados há 400 anos”. Em uma das transmissões, Kofi Offeh chegou a declarar: “Isto é o Reino. Toda mente deve ser lavada pela retidão. Eu sou o Rei de Kubala, e todas as nações me pertencem.” A fala incendiou o debate online, com muitos acusando o grupo de comportamento sectário e manipulação psicológica. A imprensa britânica passou a se referir a Offeh e Gasho como “líderes de um culto”.

A história ganhou um contorno ainda mais sombrio quando veio à tona que Kaura Taylor, a jovem de 21 anos identificada como “serva” do casal, era uma norte-americana desaparecida no Texas desde maio de 2025. Sua mãe, Melba Whitehead, confirmou à Sky News que havia registrado o desaparecimento meses antes e acusou o casal de ter aliciado a filha pela internet. “Eles se aproveitaram do fato de ela estar fragilizada e a convenceram a fugir. Usaram a fé e a manipulação emocional para atraí-la até a Escócia”, afirmou Melba. Em um vídeo compartilhado online, Kofi Offeh chegou a dizer para a jovem: “Eu comprei você por um preço.” A declaração levantou acusações de tráfico humano e coerção psicológica, embora, até o momento, nenhum crime formal tenha sido comprovado. A polícia escocesa confirmou que Kaura foi detida e liberada após prestar depoimento em uma investigação de imigração.

Two arrested as self-styled 'African tribe' evicted from woodland in Scottish Borders | ITV News

Fotos: Reprodução/ITV News

Segundo Offeh e Gasho, o “Reino de Kubala” é uma nação espiritual que representa “o renascimento da realeza africana antiga”. Eles afirmam que sua missão é “reconstruir o trono perdido” e que sua presença na Escócia simboliza a “reconquista de terras sagradas”. Críticos, porém, veem o movimento como uma mistura de fanatismo místico, autoengano e autopromoção digital. O The Sun e o LADbible classificaram o grupo como “um espetáculo performático que se alimenta da atenção online”. O caso gerou repercussão nas redes, e até comerciantes locais passaram a vender camisetas com o rosto do casal, estampadas com frases como “King & Queen of Kubala”, transformando o episódio em meme — e negócio.

As autoridades do Scottish Borders Council confirmaram que o acampamento foi completamente desmontado e que a área será reflorestada. Enquanto isso, Kofi e Jean permanecem sob investigação, e a jovem Kaura está sob acompanhamento consular norte-americano. O caso segue levantando questões sobre manipulação psicológica, imigração irregular e delírios messiânicos, mas também sobre como crenças extremas podem florescer nas redes sociais — onde um simples vídeo pode transformar um acampamento clandestino em um “reino” viral.

Mesmo após o despejo, o “Reino de Kubala” continua ativo online. Em transmissões recentes, Offeh declarou que o “reino vive no espírito” e que “nenhuma força terrena pode desalojar o divino”. Seja lido como seita, performance ou protesto simbólico, o episódio revela algo profundamente contemporâneo: a facilidade com que uma fantasia pode se materializar — e colapsar — diante das câmeras.