Os pastores Joel Miranda e Fernando Aparecido da Silva foram condenados a 21 anos de prisão em regime fechado, pela morte do adolescente de 14 anos, Lucas Terra, que foi queimado vivo e teve o corpo abandonado em um terreno baldio da capital baiana em 2001. A sentença foi proferida pela juíza Andréia Sarmento na noite de quinta-feira (27). O jovem também teria sido estuprado pelos pastores após flagrar uma relação sexual entre os dois, dentro de um templo da Igreja Universal do Reino de Deus.
Lucas Terra foi queimado vivo em 2001 e, 22 anos após o homicídio, os pastores foram julgados pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Vale lembrar que, o pastor Silvio Galiza, que também estava envolvido no caso, foi condenado em 2007 e acabou solto por liberdade condicional em 2012. Confira as penas:
- Fernando Aparecido da Silva: 18 anos de reclusão, agravada para 21 anos de prisão;
- Joel Miranda: 18 anos de prisão, agravada em 21 anos.
Juri popular
No primeiro dia do júri, cinco testemunhas de acusação e uma de defesa foram ouvidas. De acordo com um dos advogados de acusação, Jorge Fonseca, a testemunha de defesa apresentou contradição na fala. Por isso, os advogados de acusação pediram acareação, ou seja, que a testemunha prestasse depoimento novamente. “Verificamos inconsistências nos depoimentos de algumas testemunhas com o dele, então a acareação serve para pôr em cheque e esclarecer o depoimento”, explicou.
Uma das testemunhas afirmou que viu Lucas na noite em que ele desapareceu, na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), no bairro da Santa Cruz, e recebeu da vítima a informação de que ele estaria com Silvio Galiza. Outra testemunha disse que recebeu orientação de um pastor da IURD para suspender as buscas por Lucas Terra, que eram feitas por familiares e amigos, de modo independente.
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Mãe de Lucas Terra faz desabafo
“São 22 anos de impunidade, de abuso do tempo de espera. Esperar para que haja o julgamento de uma criança, todos esses anos, é ferir a nossa família todos os dias. Hoje, eu sinto como se não fosse uma vitória, porque quando passa muito tempo ela perde o efeito, mas eu quero que eles sejam julgados e que tenham pena máxima”, desabafou Marion Terra, mãe do jovem Lucas Terra.
“O meu filho não teve direito à defesa. Era uma criança de 14 anos, estava ali porque amava Cristo. Ele era um evangelizador, ele falava de Jesus todos os dias. Ele dizia: ‘mãe, esse bairro aqui da Santa Cruz é um poço de almas, de vidas para eu trazer para Cristo'”, declarou Marion. Entre as testemunhas de acusação ouvidas no primeiro dia, estava a mãe da vítima, que se emocionou bastante durante o depoimento.
Pai de Lucas Terra faleceu antes do julgamento
José Carlos Terra morreu em fevereiro de 2019, no Hospital Geral Ernesto Simões Filho, após ter uma parada respiratória decorrente de uma cirrose hepática, diagnosticada um ano antes. Por muitos anos, Carlos foi o símbolo da luta da família na cobrança da marcação do júri dos pastores. Ele fez vários protestos e chegou a acampar na frente do Fórum Ruy Barbosa, em 2012, para cobrar celeridade da Justiça no julgamento do crime.
“Toda nossa caminhada foi feita um amparando outro. Hoje a me sinto sozinha aqui, mesmo com meu filho [irmão de Lucas]. A companhia dele, que nunca desistiu de lutar – ele sempre acreditou, dizia para mim: ‘Marion, mesmo que demore, mesmo que seja até o último dia da minha vida, nós vamos lutar para que esses homens sentem no banco dos réus'”, conta Marion.
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Por meio de nota, a Igreja Universal do Reino de Deus informou que “está completamente convicta quanto à inocência de Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda”. Leia a nota completa abaixo:
“A Igreja Universal do Reino de Deus esclarece que está completamente convicta quanto à inocência de Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, que são Pastores da Universal, estando um em Minas Gerais, e o outro no Rio de Janeiro.
Quem conhece o trabalho da Igreja sabe que ela exige de todos os membros de seu corpo eclesiástico um comportamento irretocável, para que possam exercer a função missionária a eles confiada, como um verdadeiro exemplo de conduta para a comunidade onde atuam. Afastando, assim, qualquer um que tenha um comportamento contrário à fé cristã e do comportamento requerido de bispos e pastores. Contudo, em relação aos dois – ambos com quase 32 anos de ministério –, jamais foi encontrado, até aqui, comportamentos, provas ou indícios que os coloquem na cena deste crime tão brutal e lamentável.
Posto isto, a Universal reforça que continua acreditando na Justiça brasileira, e tem a convicção de que será restabelecida a justa decisão à época da Juíza de 1ª instância, de não os levarem a júri popular, por absoluta ausência de provas contra os mesmos.
Nossas orações – pelos familiares da vítima –, e pelos pastores, que, juntamente de seus familiares, têm sido submetidos a uma grave, descabida e injusta pena, em uma campanha midiática que já dura há anos. Os Bispos, pastores e milhões de simpatizantes da Universal que estão entre as maiores vítimas de preconceito religioso no Brasil, sentem também essa dor”.
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