Quatro homens fugiram da Nigéria em um compartimento do leme de um barco transatlântico, com medidas semelhantes às de uma caixa d’água. Após 14 dias, chegaram ao Brasil. Os nigerianos foram encontrados pela Polícia Federal no Espírito Santo, após um deles pedir socorro. Eles embarcaram clandestinamente em Lagos, na Nigéria, em 27 de junho. Alguns achavam que o barco iria para a Europa. Em 10 de julho, chegaram ao Espírito Santo, sem saber onde estavam.

Os nigerianos contaram que fizeram parte do trajeto sentados no leme e que na maior parte do tempo ficaram dentro da caixa da máquina do leme – um espaço que serve para manutenção do dispositivo. Úmido e apertado, pode ter três metros de largura e três de comprimento, semelhante ao tamanho de uma caixa d’água.

Ao serem encontrados pela PF, primeiro receberam água e comida. Depois, foram retirados do compartimento do leme de forma segura. Havia o risco de se afogarem por estarem fracos e desidratados devido à longa travessia em péssimas condições.

Quem pediu socorro foi Roman, de 35 anos. Ele disse ao Fantástico que viu o navio e decidiu entrar, em busca de um “futuro melhor para minha família e para mim”. Ele relatou que não tem pai, a mãe é viúva e tem três irmãos menores para cuidar. Você fica com medo porque a água é forte e o barulho do motor… Você só pede a Deus para te proteger, você não pensa em mais nada. Era um lugar perigoso e arriscado, todo mundo estava com medo. Temos sorte de estar bem”, disse o nigeriano.

Confira o momento do resgate:




“Eles estavam muito debilitados em razão da falta de água, da falta de alimentos, mas não apresentavam nenhum tipo de doença aparente e foram encaminhados para um hotel, receberam alimentação e foram hidratados”, conta Eugenio Ricas – delegado e superintendente da Polícia Federal do Espirito Santo.

Os imigrantes chegaram a conversar com uma representante do Alto Comissariado para os Refugiados da ONU (ACNUR). Como solicitantes de refúgio, eles terão os mesmos direitos de um cidadão brasileiro. No entanto, dois deles decidiram voltar para a Nigéria, em viagem paga pela seguradora do navio. A Defensoria Pública da União fez uma solicitação de refúgio para os dois imigrantes que desejam permanecer no Brasil.

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Nigéria

A Nigéria é o mais populoso da África, com 218 milhões de habitantes e tem a maior economia do continente. Porém, tem altos índices de pobreza e desemprego. Somente neste ano, o Brasil já recebeu 230 solicitações de refúgio de nigerianos.

“A Nigéria vive um drama e vive um caos humanitário de saúde, de educação e de vida, que fazem com que haja uma grande vulnerabilidade, uma grande incidência inclusive de subnutrição no país. Nós temos há 21 anos um grupo terrorista na Nigéria chamado Boko haram, perseguindo populações não islâmicas”, destaca o coordenador adjunto do Observatório das Migrações, Luis Felipe Aires Magalhães.

Não é um caso isolado

Em dezembro de 2022, uma foto semelhante rodou o mundo. Nela, três nigerianos estão sentados na pá do leme de um navio após 11 dias de viagem até as Ilhas Canárias. O local onde foram encontrados é um espaço localizado na chamada pá do leme, na parte externa do casco do navio, onde ficam ao relento e vulneráveis à violência do mar.

“O fato de terem se submetido a uma travessia tão arriscada deve ser considerado como um indício para analisar individualmente as circunstâncias pessoais dos três”, afirmou a ONG Caminando Fronteras.

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