As Olimpíadas de Paris 2024 estão sendo marcadas por polêmicas. Seja pela estrutura questionada pelos atletas, erros de arbitragem, e até mesmo mudanças polêmicas em códigos. Além disso, vêm se criando um desinteresse dos espectadores com relação à algumas modalidades, que acabaram ficando dominadas por regras que dificultam o entretenimento, como ocorreu na esgrima e no judô.
Esgrima
A esgrima é uma prática de combate com espada, florete ou sabre, cujo objetivo é tocar o adversário com a arma, na mesma medida que se evita ser tocado. O esporte é praticado na pista, área de combate retangular, sem contato corporal.
Antigamente, cavaleiros viajavam para outras vilas a fim de disputar torneios, uma prática que era muito comum até ser proibida pelo Papa. A proibição aconteceu na sequência da morte do rei Henrique II da França em um torneio de justa, um esporte em que dois cavaleiros montados a cavalo desafiam-se utilizando espadas e lanças como armas.
A modalidade faz parte dos Jogos Olímpicos desde a primeira edição moderna, em 1896, na cidade grega de Atenas. O primeiro esgrimista a conseguir 15 pontos, ou marcar mais pontos na conclusão das três rodadas de três minutos cada, vence a partida.
Os pontos são computados de forma eletrônica. Isso acontece porque a roupa dos esgrimistas tem sensores. Antes de ser adotada essa forma, as armas traziam vestígios de giz que marcavam a roupa do adversário, o que dificultava a avaliação feita pelos juízes.
Polêmica
Essa modalidade se tornou polêmica nas Olimpíadas de 2024, não apenas na web, mas até mesmo por alguns atletas relatando revolta com a situação. Um vídeo viralizado no X, mostra a disputa entre o georgiano Sandro Bazadze e o egípcio Mohamed Amed. Internautas questionaram a forma que a luta foi definida, querendo saber se foi de forma justa. “Podemos falar sobre esta decisão na esgrima”, publicou.
Podemos hablar de esta definición en esgrima 😦 pic.twitter.com/UHfMvtt838
— Historias Olímpicas (@HOlimpicas) July 29, 2024
Na disputa de oitavas de final do sabre individual masculino, o georgiano se recusou a sair da pista do Grand Palais ao ser derrotado pelo egípcio. Ele perdeu pelo placar de 15 a 14 para o rival. Sandro se revoltou e gritou com a arbitragem após o duelo. O atleta disparou em direção onde estavam os juízes, e falou reclamou duramente. Bazadze reclamou, principalmente, do último ponto anotado pelo egípcio, que foi checado pelos árbitros e, posteriormente, validado.
Depois da disputa, o vice-campeão europeu no ano passado ameaçou abandonar a carreira no esporte. “É a Olimpíada, eles nem conferem direito o vídeo. Não posso voltar, estou parando minha carreira, acabou. Minha carreira acabou, como posso voltar se os árbitros me matam o tempo todo? Ela (a árbitra) nem verifica, é a minha vida. Estou nesse esporte há 21 anos e ela me arbitra como se eu não fosse ninguém”, desabafou.
Street Fighter?
Outro vídeo que viralizou nas redes sociais sobre a esgrima, foi a luta entre Matyas Szabo e Sébastien Patrice. Na ocasião, Szabo aparece saltando para confundir seu rival, e acaba o acertando devido à sua “estratégia” um tanto quanto questionável. Segundo internautas, o movimento lembra o ataque de Zangief, personagem do popular jogo de luta japonês, Street Fighter.
Houve comparações com a movimentação à lá Street Fighter, mas também preocupações de que possa ser criada uma regra para proibir a tática, embora o francês já tenha utilizado a técnica outras vezes antes da viralizar na web. Algumas pessoas também relataram a falta de interesse na modalidade, justamente pela forma como funciona.
— lucca (@TheLuckyLucca) July 29, 2024
po eu nao vejo a graça do cara só se jogando no outro e torcer q a espada dele encoste no outro primeiro…
— DJ (@_dj_onathan) July 29, 2024
Muchos deportistas de élite buscan recovecos de la reglamentación para ganar a toda costa
— Indieplaying (@indie_playing) July 29, 2024
Veja disputas antigas da esgrima
Judô
O judô é uma arte marcial japonesa, praticada como esporte de combate desde 1882. Sua primeira participação nas Olimpíadas foi em 1964, em Tóquio. Contudo, o judô foi oficialmente incluído somente nas Olimpíadas de 1972.
Seu principal objetivo é derrubar o adversário para o chão. Os combates entre os judocas acontecem no tatame, que normalmente mede 8×8 metros. Os movimentos do judô são baseados em técnicas que envolvem diversas partes do corpo, tais como: pés, braços, pernas e quadris.
Há dois grupos para dividir os golpes:
- Nage-waza: técnicas que acontecem em pé e que envolvem movimentos com os braços, as pernas e o quadril.
Dentre elas, temos:
- Te-waza: técnicas de braço;
- Koshi-waza: técnicas de quadril;
- Ashi-waza: técnicas de perna;
- Sutemi-waza: técnicas de sacrifício.
- Katama-waza: técnicas que acontecem no chão (tatame) e que envolvem técnicas de imobilização, de estrangulamento e chave de braço.
Dente elas, temos:
- Ossaekomi-waza: técnicas de imobilização;
- Shime-waza: técnicas de estrangulamento;
- Kansetsu-waza: técnica chave de braço.
Como vencer
Para vencer a luta, o judoca precisa derrubar o adversário com as costas e ombros no tatame ou imobilizar o adversário durante um período que pode ir até 20 segundos. Atualmente, há dois tipos de golpes que pontuam no judô. Se o atleta completar dois pontos, ele vence a luta.
- Wazari: quando o judoca cai de costas no tatame, porém com pouca velocidade. Cada 1 wazari ganha um ponto, ou seja, se o judoca ficar 2 wazari, ele vence a luta.
- Ippon: quando o judoca cai perfeitamente de costas no tatame. Este golpe é considerado o ‘nocaute’ do judô, pois o judoca ganha 2 pontos, vencendo a luta.
Também há o wazari por imobilização. Isso acontece quando o atleta consegue imobilizar o adversário por 10 a 19 segundos. As lutas têm duração de 5 minutos. Durante esse período, o combate entre dois judocas deverá apresentar um vencedor. Entretanto, se isso não acontecer, há uma prorrogação, chamada de Golden Score (pontuação de ouro), ou seja, ganha o judoca que conseguir aplicar um golpe (pontuar) ou se o adversário é punido.
Acontece que, nas Olimpíadas de Paris 2024, o judô tem sido uma das modalidades mais questionada, principalmente pela sua arbitragem e mudança de regras. Os atletas mais prejudicados estão sendo os brasileiros, em situações que, nem mesmo os árbitros souberam explicar a derrota.
Rafaela Silva
Campeã olímpica no Rio 2016, a judoca brasileira Rafaela Silva ficou muito perto de conquistar a medalha de bronze na Olimpíada de Paris. Na disputa pela terceira posição, contra a japonesa Haruka Funakubo, ela levou a luta até o golden score, que se estendeu por quase cinco minutos.
A derrota só foi confirmada depois que a arbitragem puniu a brasileira por um movimento irregular no tatame. Na imagem é possível ver a judoca brasileira caindo e projetando a cabeça para frente do corpo, tocando a testa no tatame antes do restante do corpo. Pelas regras no judô, esse é um movimento considerado irregular e causa a eliminação do atleta na luta.
No entanto, antes dessa luta, houve a disputa contra a sul-coreana Mim-Huh, que literalmente correu de Rafa durante o confronto, e não teve nenhum tipo de penalidade. “Isso aqui tá ridículo. A Mimi correu da Rafa, vei”, escreveu uma na legenda da cena.
As reclamações dos Internautas também inundaram a web, que apontaram a atitude de Mimi-Huh como falta de competitividade, o que poderia ser punido com falta. A sul-coreana venceu a luta contra Rafaela Silva por waza-ari, no golden score.
A SUL-COREANA CORRENDO DA RAFAELA SILVA MELHOR MOMENTO DESSA OLIMPÍADA #Paris2024 pic.twitter.com/kF8JrzZxjJ
— Séries Brasil (@SeriesBrasil) July 29, 2024
Rafael Macedo
Mais uma polêmica envolvendo um atleta brasileiro no judô durante as Olimpíadas de Paris. A disputa de bronze do judoca Rafael Macedo, da categoria até 90kg dos Jogos Olímpicos, poderia ter terminado em medalha, mas acabou em polêmica.
Em uma decisão não explicada pelo árbitro, o atleta brasileiro recebeu um shido – isto é, uma punição – enquanto lutava no solo. Rafael, porém, já tinha duas punições e não poderia receber outra.
Nem mesmo o site oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI) determina a punição. A decisão foi classificada como “shido indeterminado”. No momento, explicou-se que o shido teria supostamente sido dado por conta de um tipo de pegada que é proibida no judô: quando um atleta coloca os dedos por dentro da manga do uniforme do adversário. Mas isso não foi indicado pelo árbitro, que deve sinalizar com as mãos o motivo de cada advertência.
Outro sinal que indica que não seria esse o motivo da punição é a atitude do próprio francês durante a luta. Quando ambos os judocas estão no chão, Rafael passa seu joelho por cima do pescoço do adversário, que aponta em direção à própria cabeça. O árbitro interrompe o combate logo em seguida.
Leonardo Gonçalves
O Brasil sofreu mais uma vez na mão da arbitragem no judô nas Olimpíadas de Paris. A “vítima” da vez foi Leonardo Gonçalves, que perdeu logo na estreia para Dzhafar Kostoev, dos Emirados Árabes. O brasileiro aplicou um golpe no golden score, mas os juízes viram um contra-ataque e deram a pontuação para o atleta árabe.
Leonardo reclamou na hora, ainda no tatame. Depois deu seu ponto de vista do que aconteceu e chegou a fugir um pouco da reclamação. “Eu não vi se ele caiu de lado ou não. Eu realmente caí com as costas, mas não vi movimento dele me jogar. A decisão é totalmente dos árbitros, eu ficar indignado ou não, não muda a decisão deles”, disse.
Kiko Pereira, disse que a decisão desta quinta poderia ter uma justificativa. “Eu não vi, daquele ângulo é difícil. Já recebi algumas mensagens de que pode ter sido (waza-ari). O atleta do Emirados Árabes fez o golpe, o Leo se preparou para arremessar ele para trás, como foi na primeira vez. E aí, o atleta dos Emirados Árabes virou. Tem que olhar no vídeo”, disse.
“Tende a acontecer mais erros contra o Brasil”
Após ver o vídeo, Kiko enxergou que o movimento do rival foi feito com uma pegada debaixo da faixa, o que é proibido. Ele não só não deveria ter o golpe computado como deveria ter tomado um shido, que representaria a vitória de Leonardo nas punições. “Olha que absurdo! (O VAR) Contra nós, nada!”, disse.
“Para quem é amante do judô, é um assunto difícil. Eu amo o judô, realmente, por tudo que ele fez por mim. E eu também acho que está um pouco difícil de entender, até mesmo para os atletas, para os técnicos e para a arbitragem. Às vezes eles mesmo estão se confundindo um pouco. Eu acho que quando é a favor do judô, do Brasil, a gente não reclama e vice-versa, quando é contra a gente reclama. Infelizmente, nas Olimpíadas a gente viu mais lances contra o Brasil. Não é normal, quer dizer, isso é recorrente, aliás, acontece. Infelizmente acontece, tende a mais acontecer (erros contra) o Brasil, não sei”, declarou Leonardo.
Beatriz Souza
Apesar dessa não ser uma derrota, foi uma vitória muito suada. A judoca brasileira Beatriz Souza está na semifinal dos pesos pesados do judô nas Olimpíadas de Paris. A número 5 do mundo entrou direto nas oitavas de final e venceu a nicaraguense Izayana Marenco por ippon e a sul-coreana Kim Hayun por waza-ari, com direito a revisão no vídeo já no golden score.
O combate com a sul-coreana Kim Hayun foi de pouca movimentação e muito estudo. Ambas levaram dois shidôs por evitar a pegada da adversária e chegaram no golden score penduradas em faltas. A sul-coreana partiu para tentar um ataque no tempo extra, que a brasileira conseguiu defender e contra-atacar com uma técnica de sacrifício. Em um primeiro momento, a arbitragem marcou ippon para Kim. Após revisão, a marcação foi revertida para um waza-ari e vitória da brasileira.
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