Recentemente, viralizou na internet uma entrevista de 2017 com Matthieu Ricard, doutor em biologia molecular e monge budista. Ele foi considerado “o homem mais feliz do mundo” após um estudo realizado por cientistas que pesquisaram diversos grupos de pessoas. Na época, os cientistas da Universidade de Wisconsin, nos EUA, usaram sensores na cabeça de Ricard e de outras centenas de participantes para medir níveis de estresse, irritabilidade, satisfação e prazer. A pontuação obtida refletia o nível de felicidade da pessoa.

Por exemplo, uma escala de 0,3 indicava que a pessoa era muito infeliz, enquanto -0,3 mostrava que a pessoa era muito feliz. Matthieu Ricard atingiu uma pontuação de -0,45, ultrapassando todos os limites do estudo e ganhando assim o título de “o homem mais feliz do mundo”. Com isso, ele se tornou um “guru” da felicidade, frequentemente convidado para entrevistas. Em uma delas, ele compartilhou as duas palavras que considera fundamentais para alcançar a felicidade.

Foto: Jean-Christophe sounalet

Altruísmo e Compaixão

Quando perguntado pela BBC News sobre seu segredo para a felicidade, Matthieu respondeu que eram a compaixão e o altruísmo. Segundo ele, a busca egoísta pela felicidade não funciona, pois todos perdem quando não nos importamos com as pessoas ao nosso redor. Vamos entender melhor esses conceitos:

  • Compaixão

Compaixão é a capacidade de reconhecer o sofrimento dos outros e sentir uma preocupação profunda pelo seu bem-estar, acompanhada do desejo de aliviar esse sofrimento. É um estado de atenção amorosa ao nosso redor. Uma pessoa compassiva demonstra empatia profunda, entende e sente as emoções dos outros, e se coloca no lugar deles com atenção e sensibilidade. Ou seja, está atenta às necessidades e sentimentos dos outros, percebendo sinais de sofrimento.

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“Estudos mostraram que cultivar a atenção, a compaixão e se libertar de pensamentos obsessivos produz mudanças funcionais e estruturais no cérebro”, afirmou Matthieu na entrevista. Segundo ele, essas mudanças ajudam a alterar padrões viciosos de comportamento.

  • Altruísmo

Ser altruísta envolve agir de forma desinteressada para o bem-estar dos outros, muitas vezes colocando as necessidades e interesses deles acima dos seus próprios. Algumas características de uma pessoa altruísta incluem:

– Empatia
– Generosidade
– Solidariedade
– Compromisso com o bem comum
– Humildade

Desenvolver o altruísmo pode envolver práticas como voluntariado, doações, atos de bondade no dia a dia, e a busca por entender e aliviar o sofrimento alheio. Não se trata apenas de grandes gestos, mas também de pequenas ações que fazem diferença na vida das pessoas. “O altruísmo é uma situação em que todos ganham”, diz Matthieu.

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Como Alcançar Altruísmo e Compaixão?

Para desenvolver a capacidade de ser altruísta e agir com compaixão, é necessário ter autoconhecimento.“Precisamos nos conhecer para ser felizes, pois é necessário aprender a lidar com nossas emoções”, explica Lizandra Arita, psicóloga da Clínica Mantelli. Segundo ela, em muitos momentos da vida precisamos aprender a lidar com a raiva e canalizá-la. Sem isso, é difícil desenvolver altruísmo e compaixão, já que, ao não nos conhecermos plenamente, podemos deixar que certos sentimentos nos dominem e sobreponham as qualidades destacadas por Matthieu.

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“É preciso resolver traumas e os ‘sonhos’ herdados de gerações passadas que afetam nosso inconsciente e provocam tristeza”, diz ela. “Devemos investigar a origem dessa tristeza e buscar autoconhecimento para lidar com questões enraizadas em nosso inconsciente”. A especialista sugere que a terapia é uma ótima maneira de desenvolver autoconhecimento e aumentar a capacidade de compaixão e altruísmo. Mas existem outras abordagens que também podem ajudar.

Em Busca do Equilíbrio e da Felicidade

Lizandra destaca que não há uma fórmula mágica para a felicidade, e cada pessoa deve definir esse sentimento com base em suas crenças, convicções e visão de mundo. Ela acrescenta que o caminho para a felicidade passa pelo equilíbrio na vida. “Por isso, precisamos cuidar da nossa saúde física, pois a felicidade depende de estarmos saudáveis”, afirma.

Além disso, ela menciona a importância de manter a mente ativa, trabalhar o lado intelectual, e estar sempre atento ao momento presente. “O ser humano sofre pelo passado e pelo futuro.” Para isso, ela recomenda a meditação, prática incorporada à vida de Matthieu Ricard. O budista comentou que pessoas que meditavam tinham grande ativação em áreas do cérebro associadas à compaixão.

“Este é um bom treino diário: meditar e estar presente no aqui e agora, vivendo o presente e entregando minha melhor versão com atenção concentrada”, finaliza Lizandra.

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