Durante um evento de arrecadação de fundos um tanto ousado e pouco convencional, o Padre Adelir Antonio de Carli, um sacerdote paranaense com o coração voltado para a caridade e amor pela aventura tomou os céus de uma maneira inimaginável. Apenas pense nisso: um homem, não em um avião, não em um balão de ar quente, mas preso a mil balões de gás hélio, flutuando no céu. Isso claramente só pode ser coisa de filme, não é? Bem, na verdade, essa foi a realidade trágica do Padre de Carli.

Padre do Balão - Foto: Reprodução

Padre do Balão – Foto: Reprodução

Vale ressaltar que isso não foi apenas uma manobra radical por pura emoção. Na verdade, o Padre tinha uma nobre causa em mente. Ele queria arrecadar fundos para construir uma capela para caminhoneiros em sua cidade natal, um lugar entrecruzado por rodovias. E não, correr uma maratona ou até fazer uma venda de bolos simplesmente não seria suficiente para ele. Ele mirou mais alto, literalmente.

Você provavelmente deve estar se perguntando: como um padre acabou flutuando a milhares de metros acima do solo? A verdade é que, Carli não era estranho aos céus. Porém, em 20 de abril de 2008, ele decidiu ir ainda mais longe. Usando um capacete, um macacão impermeável e um traje térmico de alumínio feito para voo, ele não estava apenas à deriva. Ele estava preparado para um empreendimento sério!

Objetivo

Levando consigo itens essenciais como um paraquedas, um rastreador GPS e um rádio para comunicação com o tráfego aéreo, o Padre de Carli estava tão preparado quanto possível para tal façanha deveras audaciosa.

Aderli, o Padre do Balão - Foto: Reprodução

Aderli, o Padre do Balão – Foto: Reprodução

Mas, qual era seu objetivo? Quebrar o recorde de maior tempo flutuando com balões de hélio, anteriormente estabelecido em 19 horas. E não era sua primeira vez. No início daquele mesmo ano, o Padre de Carli havia embarcado em uma viagem aérea de quatro horas. Alcançando uma altitude impressionante de 5.300 metros, e pousando com segurança na Argentina, partindo da cidade de Ampére.

Entretanto, a segunda tentativa do ambicioso padre tomou um rumo misterioso. Apesar de seus meticulosos preparativos e experiência anterior, o Padre de Carli desapareceu cerca de oito horas após o início de sua jornada.

Últimas palavras

Durante uma chamada por telefone com o canal de TV Globo, o Padre de Carli declarou: “Graças a Deus estou bem de saúde. Consciência tranquila, tá muito frio aqui em cima, mas tá tudo bem”, disse o padre durante contato com a equipe. Ele acrescentou que estava tendo algumas dificuldades com seu GPS e que as condições meteorológicas estavam piorando.

Momento em que o Padre voou de balão - Foto: Reprodução

Momento em que o Padre voou de balão – Foto: Reprodução

“Eu preciso entrar em contato com o pessoal para que eles me ensinem a operar esse GPS aqui. Para dar as coordenadas de latitude e longitude que é a única forma que alguém por terra possa saber onde eu estou. O celular via satélite fica saindo de área e além do mais a bateria está enfraquecendo“, essas foram as últimas palavras do Padre.

A situação rapidamente escalou para uma operação de busca e resgate em grande escala. Envolvendo aviões, helicópteros e equipes vasculhando a área, na esperança desesperada de encontrá-lo seguro.

Triste fim

Após uma espera ansiosa, um vislumbre de esperança surgiu dois dias após a decolagem. Quando balões foram avistados na costa sudeste do Brasil. No entanto, meses depois uma descoberta sombria foi feita – um corpo, confirmado por testes de DNA ser do Padre de Carli. Os detalhes em torno de seu desaparecimento permanecem incertos, com especulações sobre possíveis dificuldades com o dispositivo GPS e condições meteorológicas adversas.

O triste fim do Padre do Balão - Foto: Reprodução

O triste fim do Padre do Balão – Foto: Reprodução

Mais precisamente, em 4 de julho de 2008, a metade inferior de seu corpo foi encontrada pelo navio rebocador Anna Gabriela, que prestava serviços a Petrobras. O corpo do padre estava flutuando em alto mar, a cerca de 100 km do município de Macaé, no litoral do Rio de Janeiro, e foi inicialmente identificado pelas roupas. Adelir caiu no litoral de Santa Catarina e, possivelmente, morreu por hipotermia.

Durante o tempo desaparecido, foi levado por correntes marítimas até o litoral do estado do Rio de Janeiro. Em 29 de julho de 2008, testes de DNA feitos pelo IML confirmaram que o corpo era do sacerdote. A comparação foi feita com amostras de DNA do irmão do padre. O sepultamento ocorreu na cidade de Ampére, no Paraná.

Após o ocorrido, a comunidade lamentou a perda de um homem que claramente era mais do que apenas um padre; ele era um aventureiro de coração. Sempre disposto a ir longe por uma causa em que acreditava. A história do Padre de Carli, embora tenha terminado tragicamente, sublinha até que ponto alguns irão para fazer a diferença, misturando as linhas entre fé, aventura e altruísmo em uma narrativa tão desconcertante quanto comovente.

Você conhecia a história do ‘Padre do Balão’?