Adilson Maguila, lenda do boxe brasileiro, morreu aos 66 anos vítima de uma doença neurodegenerativa causada por repetidos traumas cranianos. O ex-boxeador expressou, ainda em vida, o desejo de doar seu cérebro para pesquisas científicas, com o objetivo de ajudar a compreender melhor a condição que enfrentava. Saiba como esse gesto pode contribuir para a ciência e o que ele representa.
Encefalopatia traumática crônica: A doença que atingiu Maguila
Maguila foi diagnosticado com encefalopatia traumática crônica (ETC), uma doença progressiva e irreversível provocada por sucessivos impactos na cabeça. Antes dos anos 1990, a ETC era conhecida como “demência pugilística” devido à sua alta prevalência entre boxeadores profissionais, que, assim como Maguila, sofrem repetidos traumas cranianos ao longo de suas carreiras.
A doença se manifesta com sintomas como perda de memória, dificuldades motoras, mudanças de comportamento e demência, afetando gravemente a qualidade de vida dos acometidos. Maguila tratou a doença por anos, vivendo as complicações que ela trouxe até seu falecimento.
O desejo de doar o cérebro: um ato de contribuição para a ciência
Em uma entrevista à TV Globo, realizada em 2018, Maguila revelou seu desejo de doar o cérebro para estudos científicos, especificamente para a Universidade de São Paulo (USP), uma das instituições de destaque no estudo de doenças neurodegenerativas: “Eu quero doar meu cérebro para ajudar a ciência, mas sem pressa, porque quero viver até os 100 anos”, brincou o ex-boxeador na época.
Seu objetivo era auxiliar as pesquisas sobre os danos cerebrais causados por traumas repetitivos, que são comuns não apenas no boxe, mas também em esportes como futebol e rúgbi.
A USP possui uma equipe dedicada a analisar as consequências dos impactos cranianos, com o objetivo de desenvolver medidas de prevenção e estratégias de tratamento para evitar o avanço dessas doenças. A pesquisa é fundamental, pois ajuda a proteger atletas e a melhorar a qualidade de vida daqueles que foram afetados por lesões cerebrais graves.
Contribuições anteriores: O exemplo de Bellini
Maguila não foi o único a ter essa iniciativa. O ex-zagueiro Bellini, campeão mundial de futebol em 1958, também sofreu de encefalopatia traumática crônica e doou seu cérebro para a USP. Ele foi um dos 5.000 doadores que ajudaram a formar o segundo maior acervo mundial de encéfalos em um único local.
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O acervo da USP é fundamental para os avanços na área. A universidade administra o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC), o maior centro de autópsias do mundo, que emite atestados de óbito para casos de mortes naturais na cidade de São Paulo. Com a análise de cérebros de doadores como Bellini, os pesquisadores conseguem entender melhor as consequências do envelhecimento e dos traumas no cérebro humano.
Importância da pesquisa: prevenção e tratamento
Os estudos realizados com cérebros doados permitem a identificação dos efeitos de doenças neurodegenerativas e de traumas cerebrais ao longo dos anos. Esses dados são essenciais para a formulação de políticas de prevenção e a criação de tratamentos mais eficazes, não só para atletas, mas para a população em geral.
Pesquisas como as conduzidas na USP ajudam a melhorar a compreensão sobre como o cérebro envelhece e como traumas repetitivos afetam suas funções. Com isso, é possível desenvolver práticas que minimizem o risco de lesões graves, seja por meio de mudanças nas regras dos esportes, uso de equipamentos de proteção mais eficazes, ou campanhas de conscientização sobre os impactos a longo prazo das lesões.
Doação para a USP
A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) recebeu o cérebro do ex-pugilista recentemente para aprofundar pesquisas sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC).
Confira:
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