Francisco Wanderley Luiz, conhecido como “Tiü França”, de 59 anos, morreu durante as explosões na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite dessa quarta-feira (13). A identidade do homem, que acionou artefatos explosivos próximos ao STF, foi confirmada pela Polícia Federal, por meio de reconhecimento visual. Ele era o proprietário do carro que explodiu a cerca de 300 metros da Esplanada dos Ministérios.
Natural do Rio do Sul, em Santa Catarina, Wanderley era filiado ao Partido Liberal (PL) e já havia se candidatado a vereador em 2020, mas acabou não se elegendo, conseguindo apenas 98 votos. Segundo declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele teria R$ 263 mil em bens. Os valores eram divididos entre motocicletas, três carros e um prédio residencial.
Francisco Wanderley Luiz tinha passagem pela polícia e foi preso em dezembro de 2012. O homem foi apreendido em flagrante por contravenção na cidade de Rio do Sul, Santa Catarina. Na época, ele chegou a pagar fiança, porém, um mês depois, foi oferecida uma denúncia do crime pelo Ministério Público.
Durante o período, ficou em liberdade e, na sequência, foi decretada sua prisão-albergue, modalidade em que se pode trabalhar durante o dia e retornar para o estabelecimento penal à noite. A condenação foi revogada em agosto de 2014, quando o processo foi transitado em julgado, e o Ministério Público determinou a extinção da pena.
Casa alugada tinha explosivos
Atualmente, Francisco Wanderley estava morando em Ceilândia, cidade satélite de Brasília, em sua casa, policiais acharam sua CNH. Segundo o portal Metrópoles, a Polícia Militar do Distrito Federal encontrou explosivos no imóvel alugado pelo homem.
A corporação fez uma varredura no imóvel, antes das buscas dos policiais federais, para evitar riscos aos investigadores. No endereço, a PMDF encontrou armadilhas com bomba, inclusive, uma delas explodiu.
Além disso, a Polícia Militar desativou quatro objetos suspeitos na Praça dos Três Poderes, e potenciais explosivos encontrados no carro de Francisco. Três desses itens estavam no cinto dele, e o quarto seria um extintor – a alguns metros de distância do ponto da explosão e supostamente adaptado para estourar -, cujo pino detonador estava na mochila do homem.
Família e visita ao STF
Em entrevista ao portal Metrópoles, o filho de Wanderley disse que há meses não recebia notícias do pai. “Ele tinha uns problemas pessoais com a minha mãe e estava muito abalado com a situação, e ele viajou. Foi só isso que ele falou. Ele só queria viajar. A intenção dele era ir para o Chile”.
Amigo e ex-colega de partido de Francisco Wanderley Luiz, o deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC), afirmou que o autor do atentado a bomba em Brasília era considerado uma pessoa “de bem”, em Rio do Sul. “Era um grande amigo, pessoa querida, de bem. Foi empresário da minha área, de eventos. A família é do bem em Rio do Sul”, começou.
No dia 24 de agosto, Francisco Wanderley Luiz visitou o Supremo Tribunal Federal (STF), ocasião que publicou a foto em frente ao plenário. Ele também esteve na Câmara dos Deputados, visitando o gabinete do deputado federal Jorge Goetten.
“Ano passado encontrei ele no meu gabinete, fiquei feliz em recebê-lo. Ficamos batendo papo, trocamos boas lembranças de Rio do Sul. Mas ele me pareceu um pouco abalado. Aparentemente, tinha problema de saúde mental, emocionalmente abalado. Comentou sobre a separação com a mulher dele… Nós não tínhamos tanta intimidade pra ele falar da forma como falou”, disse ele, ao Metrópoles.
“Lamento também como parlamentar, pelo fato de a Câmara dos Deputados estar envolvida nesse episódio que não merece. E nosso gabinete talvez tenha uma parcela de culpa nisso, mas é impossível impedir essas loucuras que acontecem com ser humano com saúde mental abalado. Jamais imaginaria que ele poderia causar isso para ele e para a sociedade”, destacou Jorge.
Teorias da conspiração
Nas redes sociais, Francisco Wanderley Luiz tinha um perfil ativo e compartilhava conteúdos relacionados a política, religião e teorias da conspiração. O autor das explosões em Brasília acreditava na existência do QAnon (teoria de extrema-direita em que adeptos da esquerda são adoradores de Satanás, pedófilos e canibais).
Além disso, também publicava frequentes críticas aos ministros do STF, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos líderes da Câmara dos Deputados e Senado Federal. Em postagens recentes, Francisco escreveu que o dia 15 de novembro, feriado de Proclamação da República, seria “especial para iniciar uma revolução”.
Testemunhas relataram às autoridades que o autor das explosões em Brasília usava roupas que lembravam o personagem Coringa, vestindo um terno personalizado com naipes de cartas. Um chapéu branco foi encontrado ao lado do corpo. Ele morreu ao acionar um explosivo próximo à própria cabeça.
Ódio por Alexandre de Moraes
A ex-mulher de Francisco Wanderley Luiz, autor do ataque à bomba na Praça dos Três Poderes, disse a agentes da Polícia Federal que ele “queria matar o ministro Alexandre de Moraes e quem mais estivesse junto na hora do atentado“.
Daiane, a ex-companheira do autor do atentado, disse ainda aos agentes da PF em Santa Catarina que o Francisco chegou a fazer e compartilhar pesquisas no Google para planejar o atentado que executou ontem. O criminoso fazia parte de grupos radicais — e a PF investiga os laços dele com outras pessoas.
Segundo o relato, assim que recebeu os registros das pesquisas feitas pelo ex-marido, Daiane perguntou: “Você vai mesmo fazer essa loucura?”. No espelho casa que alugou em Brasília, Francisco escreveu: “DEBORA RODRIGUES, Por favor não desperdice batom. Isso é para deixar as mulheres bonitas. Estátua de merda se usa TNT.”
Para a PF, a mensagem deixada no espelho era uma referência à Debora Rodrigues, presa em 2023 após ser identificada pela PF por ter vandalizado a Estátua da Justiça com a inscrição “Perdeu, Mané”.
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