Expressões populares são consideradas sábias, porque são passadas de geração para geração e transmitem experiências e conhecimentos que podem ajudar pessoas mais novas a entenderem determinados comportamentos e acontecimentos. As origens desses termos podem ser conhecidas ou não, bem como podem ser incertas. Essas frases são faladas pela população em geral, independentemente da idade e da classe social.
Esses ditados populares são mantidos ao longo dos anos e são elementos importantes da cultura nacional ou local. Fazem parte ainda da diversidade cultural do Brasil. Muita vezes, por costume, acabamos falando essas expressões e nem sabemos de onde elas surgiram. Descubra aqui a história por trás de 15 ditados e expressões que usamos no dia a dia!
Casa da mãe Joana
A expressão “casa da mãe Joana” tem origem no século 14, quando Joana I, Rainha de Nápoles, precisou se refugiar em Avignon, na França. No exílio, ela regulamentou os bordéis da cidade, que ficaram conhecidos como “paço da mãe Joana”. No Brasil, “paço” foi substituído por “casa”.
Esse ditado remete a um local onde tudo é permitido. Isto é, qualquer pessoa pode entrar nesse lugar, pode mandar, e usufruir dele. Sendo assim, é um ambiente sem regras, onde todo mundo pode mandar e fazer o que quiser, mas obedece quem quiser também. Além disso, a casa da mãe Joana também pode representar um espaço sem nenhuma organização, apenas com bagunça e desordem.
Calcanhar de Aquiles
O ponto fraco de algo ou alguém é geralmente chamado de “calcanhar de Aquiles” por conta da fraqueza desse herói da mitologia grega. Aquiles era um mortal, filho do rei Peleu e da deusa Tétis.
Na intenção de torná-lo imortal, sua mãe o mergulhou no rio Estige, segurando-o pelo calcanhar – único local que as águas não o tocaram e, portanto, a única parte vulnerável de seu corpo. Na Guerra de Troia, Aquiles teria sido flechado justamente no calcanhar por Páris, que conhecia essa fraqueza.
Cheio de nove horas
No século 19, 9 horas da noite marcava um limite importante na sociedade brasileira. Este era o horário de se recolher, pois quem estivesse na rua depois das 21h não era tido como uma pessoa de bem, e sim como boêmio.
Por exemplo, o marido que não voltasse para casa antes desse horário enfrentava problemas. Com o tempo, a expressão “cheio de nove horas” evoluiu para descrever pessoas meticulosas, cheias de regras e exigências
Fazer uma vaquinha
Essa expressão usada quando um grupo de pessoas racha uma despesa, curiosamente, foi criada pela torcida do Vasco da Gama. Durante a década de 1920, a expressão surgiu entre torcedores do Vasco, que arrecadavam dinheiro para premiar jogadores em caso de vitória. O valor do prêmio seguia o jogo do bicho: uma vitória por 1 a 0, correspondente ao número 10 (“coelho”), rendia 10 mil réis.
Cair no conto do vigário
Puxa-saco
A expressão “puxa-saco” surgiu nos quartéis brasileiros, onde soldados de baixo escalão tinham a obrigação de carregar os sacos de suprimentos de seus superiores durante viagens e campanhas. Assim, esse ato de subserviência lhes rendeu o apelido. Com o tempo, o termo evoluiu para descrever qualquer indivíduo interesseiro que faz de tudo para agradar alguém, geralmente em busca de favores ou vantagens.
Pé-rapado
Na época colonial, os pobres andavam a pé e tinham que raspar os pés em instrumentos de metal instalados nas portas das igrejas e prédios públicos para retirar a lama antes de entrar. Os ricos, por outro lado, andavam de cavalo, charrete ou eram carregados por escravos e tinham as botas limpas. Assim, “pé-rapado” passou a designar pessoas de baixa condição social, indicando pobreza extrema.
A cobra vai fumar
Durante a 2ª Guerra Mundial, o governo de Getúlio Vargas ora se aproximava dos Estados Unidos, ora da Alemanha nazista. Na época, era comum ouvir que seria mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.
Chato de galocha
Antes das ruas serem asfaltadas, era comum o uso de galochas, calçados de borracha usados em dias de chuva. Ao chegar em casa, as pessoas tiravam as galochas para evitar sujar o ambiente.
Corredor polonês
O Corredor polonês foi uma faixa de terra cedida da Alemanha para a Polônia em 1919, após o Tratado de Versalhes, acordo que marcou o fim da 1ª Guerra Mundial.
Em 1939, com a ascensão do partido nazista, a Alemanha invadiu a região, cercando os poloneses com tropas em ambos os lados do corredor. Hoje, a expressão “corredor polonês” é usada para descrever uma passagem estreita formada por duas fileiras de pessoas, geralmente em contextos de brincadeira
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Quem não tem cão caça com gato
Na verdade, a expressão correta era “quem não tem cão, caça como gato”. Ou seja, se você não tem um cão para encurralar a caça, você deve caçar de maneira sorrateira, com astúcia, assim como um gato.
Com o tempo, a expressão foi modificada e perdeu seu sentido original. Hoje significa que quando não temos a ferramenta ou as condições ideais para realizar uma atividade, devemos improvisar.
Elefante Branco
No antigo Reino de Sião (atual Tailândia) o elefante branco era considerado animal sagrado e deveria ser dado ao rei quando encontrado. O rei, por sua vez, presenteava os membros da corte com um desses raros animais. Apesar do custo e do grande trabalho em cuidar de um bicho desse tamanho, não pegava bem recusar o presente – afinal se tratava de um animal sagrado e um presente real.
Ou seja, a expressão “elefante branco” é usada para descrever algo que é valioso, mas que não tem utilidade e é caro de manter. Por exemplo, um presente estranho ou um projeto governamental que não serve para nada
Terminar em pizza
Este é mais um dos termos que surgiu no futebol brasileiro. A expressão “terminar em pizza” surgiu nos anos 1960 durante uma longa reunião dos dirigentes do Palmeiras. Após 14 horas de discussões acaloradas, eles resolveram as divergências indo a uma pizzaria e comendo juntos.
Cair a ficha
Chorar as pitangas
A expressão “chorar as pitangas” é usada para se referir a alguém que está reclamando, se lamentando ou chorando em excesso. A explicação que Câmara Cascudo traz no livro Locuções Tradicionais do Brasil é a de que essa frase está associada à expressão portuguesa “chorar lágrimas de sangue”.
Amigo da onça
Maria vai com as outras
Segundo o pesquisador Brasil Gerson, autor de História das Ruas do Rio, a expressão tem origem no início do século 19, com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. A mãe do rei João VI, a rainha Maria I, costumava passear às margens do rio Carioca, no antigo bairro de Águas Férreas.
Acontece que Maria I era conhecida por sua insanidade mental (manifestada após a morte do filho e da Revolução Francesa), tanto que era tratada como “A Louca”. Como ela ia passear levada pelas mãos de suas damas de companhia, o povo dizia: “Maria vai com as outras”.
Quebrar um galho
Quando alguém nos ajuda a resolver um problema, dizemos que essa pessoa nos “quebrou um galho”. Existem duas versões diferentes para explicar a origem dessa expressão tão usada no Brasil
Um dos significados da palavra galho é “conjunto de riachos que se reúnem para formar um rio”. Assim, para os viajantes, “quebrar um galho” significa abrir um caminho em um afluente de rio para desembocar de forma mais rápida no rio principal.
Dor de cotovelo
A expressão se difundiu graças ao sambista Lupicínio Rodrigues. Lupe, como era conhecido, foi um mulherengo incorrigível. E usou suas diversas desilusões amorosas como inspiração para compor. Praticamente todos os sambas de Lupe mencionavam a ‘dor’ e ele costumava classificar sua dor de cotovelo em três categorias, conforme a intensidade:
- A federal, que acabava em um porre;
- A estadual, suportável;
- E a municipal, que não rendia sequer um samba.
Enfiar o pé na jaca
“Enfiar o pé na jaca” é uma expressão popular que significa ter um comportamento descontrolado ou excessivo, principalmente quando se trata de bebida ou comida. Por exemplo: “vai trazendo chopes que hoje eu vou enfiar o pé na jaca!”.
A expressão tem origem no Brasil colonial, quando os tropeiros usavam cestos chamados “jacás” para transportar mercadorias. Os tropeiros paravam em bodegas para beber e, quando voltavam a montar nas mulas, acabavam enfiando o pé no jacá. Ao longo dos anos, o termo “jacá” foi substituído por “jaca” e a expressão passou a ser usada para indicar qualquer tipo de exagero ou excesso.
Com os burros n’água
Usada quando alguém faz esforço para conseguir algo e se dá mal, a frase vem dos tempos do Brasil colonial, que, entre os séculos 17 e 18, viu a necessidade de escoar ouro, cacau e café entre o Sul e o Sudeste e adotou a ideia dos colonizadores espanhóis, que transportavam entre a Bolívia e o Panamá cargas sobre burros ou mulas.
Era comum os condutores das tropas enfrentarem caminhos torturantes. Muitas vezes davam, literalmente, com os burros n’água — em travessias alagadas onde os animais morriam afogados. Como o dono da mercadoria arcava com o dano, a locução passou a ser empregada sempre que alguém leva a pior.
As paredes têm ouvidos
A origem dessa expressão remonta a um antigo provérbio persa que dizia: “As paredes têm ratos, e ratos têm ouvidos”. Um registro similar é encontrado no clássico medieval The Canterbury Tales, em que o autor, Geoffrey Saucer, descreve que “aquele campo tinha olhos, e a madeira tinha ouvidos”.
Outra versão conta que a rainha Catarina de Médicis, esposa católica de Henrique II (rei da França) e perseguidora implacável dos huguenotes, protestantes franceses, fez furos nas paredes do palácio real para poder ouvir as pessoas das quais suspeitava.
Arranca-rabo
Sinônimo de briga, confusão, escândalo, a expressão tem origem em Portugal. Mas os fatos que a inspiraram remontam às guerras da Antiguidade. Segundo Deonísio da Silva, professor de Letras da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, os guerreiros egípcios adotaram a prática de decepar a cauda dos cavalos das montarias inimigas para provar aos súditos a vitória em uma batalha.
“Um oficial do faraó Tutmés III (1504-1450 a.C.) chegou a registrar em suas escrituras a glória de ter arrancado o rabo do cavalo do rei adversário”, escreve ele no livro De Onde Vêm as Palavras. O apreço pelo troféu inusitado durou milênios, chegando às terras lusitanas e, depois, ao Brasil. Aqui, os cangaceiros cortavam o rabo do gado de fazendas, para humilhar seus proprietários durante as invasões.
Segurar vela
Quando não existiam as lâmpadas, as velas eram a principal fonte de luz. Por isso, na Idade Média, os iniciantes em todo tipo de trabalho braçal seguravam velas para que os mais experientes enxergassem o que faziam. Em teatros e outros lugares que funcionavam à noite, por exemplo, havia garotos acendedores de vela.
Em francês, uma das explicações da expressão (“tenir la chandelle”) se refere a criados que eram obrigados a segurar os candeeiros durante as relações sexuais de seus patrões e se manter virados de costas para não ver o que acontecia.
Entre 1500 e 1600, “segurar vela” passou a significar “ajudar em uma posição subordinada, desconfortável”. Com o tempo, serviu para designar a amante de um triângulo amoroso, e, mais recentemente, o amigo solteiro que acompanha um casal.
Custar os olhos da cara
A origem mais conhecida dessa expressão faz referência ao espanhol Diego de Almagro (1479-1538), um dos conquistadores da América, que perdeu um de seus olhos quando tentava invadir uma fortaleza inca. “Defender os interesses da Coroa espanhola me custou um olho da cara”, teria afirmado o conquistador ao imperador espanhol Carlos I.
Pagar o pato
Vem da obra Facetiae, do italiano Giovanni Bracciolini (1380-1459). O texto do autor, figura importante no Renascimento italiano, conta a história de um camponês que vendia patos e certa vez uma mulher queria pagar os animais por meio de encontros sexuais com o vendedor. Na história, ambos foram surpreendidos pelo marido – quase – traído, que, sem concordar com o trato, pagou o pato com dinheiro e encerrou a questão.
Chutar o balde
Não há registro confirmado, mas alguns estudiosos afirmam que a origem dessa expressão está na execução pela forca. No passado, os condenados ficavam em pé sobre um bloco, colocavam a corda ao redor do pescoço, e aí o bloco era retirado para que ele fosse enforcado.
Claro que o bloco nem sempre era um bloco. Forcas profissionais tinham escadas, às vezes alçapões, ou seja, diferentes recursos para “tirar o chão” do enforcado. Supostamente, um balde também teria servido de substituto, e era chutado pelo executor na hora da morte. Há também a lenda de que a expressão teria nascido a partir do chute que uma vaca dá no balde de leite, quando não está feliz com a ordenha.
Salvo pelo gongo
A lógica sugere que a expressão tenha origem nas lutas de boxe. Um pugilista prestes a perder o combate, cambaleante ou quase nocauteado, pode ser salvo com o soar do gongo ao fim de cada round.
Outra explicação faz referência a uma antiga e bizarra invenção chamada “caixão seguro”: com medo de serem enterradas vivas, pessoas encomendavam caixões com uma corda ligada a um sino, que ficava fora da sepultura. Assim, seria possível avisar alguém, caso ela acordasse sepultada.
Pôr a mão no fogo
A expressão vem de uma tortura praticada na época da Inquisição. Uma pessoa acusada de heresia tinha sua mão envolvida em uma estopa e era obrigada a andar alguns metros segurando uma barra de ferro aquecida.
Três dias depois, a estopa era retirada e a mão do suposto herege era checada: se estivesse queimada, o destino era a forca; se estivesse ilesa, era provada sua inocência. Então, botar a mão no fogo virou sinônimo de atestar confiança quase cega em alguém.
Confira a seguir: Pessoas que acidentalmente encontraram seus clones em museus; veja.
Você utiliza essas expressões no dia a dia?