Stênio Garcia, aos 92 anos, não tem poupado críticas ao cenário atual das novelas e à qualidade dos profissionais que nele atuam. Em entrevista à revista Quem, o veterano ator expressou seu descontentamento com os novos autores e com jovens colegas de profissão, especialmente no que se refere à representação de personagens mais velhos nas tramas e à falta de comprometimento de alguns atores.
Imagem: Reprodução/Instagram
A insatisfação com os novos autores
Garcia afirmou que os novos autores têm dificuldades em escrever papéis para pessoas mais velhas, um reflexo do despreparo para lidar com a representatividade da terceira idade em novelas. Em seu depoimento, ele disse: “Os autores novos não sabem mais escrever para as pessoas velhas, mas o Brasil é cheio de idoso. Para um idoso trabalhar, o autor tem que saber escrever para ele”. O ator ainda relembrou uma declaração de Tarcísio Meira, que também criticava a escassez de bons papéis para atores mais velhos, e a afirmou como algo que lhe “bateu fundo”.
Desapontado com a atuação de jovens profissionais
O ator não poupou críticas ao trabalho de alguns jovens atores, que, segundo ele, não estão comprometidos com o ofício da maneira que deveriam: “Contracenar com um ator que não olha no olho? Não quero. Me brocha”, desabafou. Ele explicou que para ele, a troca de olhares durante uma cena é essencial para entender o que o colega está pensando, algo que ele sente faltar em muitos atores atuais.
O processo de criação de personagens
Com 71 anos de carreira, Stênio Garcia acredita que a falta de profundidade no processo de criação de personagens tem prejudicado a qualidade da atuação. Ele comentou como, no passado, a preparação para um papel era muito mais intensa: “Às vezes fazíamos uma proposta de personagem e escrevíamos uma vida inteira de como ele seria no caderno. Uma vez, interpretando o Aleijadinho, amarrei a mão durante o laboratório para não a usar assim como ele, e me furei por conta do jeito que fiz”, explicou, ressaltando que o trabalho de pesquisa sobre o personagem era fundamental. Para Garcia, a internet não substitui a experiência e o estudo de quem passou pela formação teatral.
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A visão sobre a carreira e aposentadoria
Apesar de todas as críticas, Stênio Garcia deixou claro que ainda não pensa em se aposentar. Aos 92 anos, ele afirmou que, para os atores, é necessário buscar outras fontes de renda além do trabalho audiovisual, como forma de garantir uma estabilidade financeira: “Se o ator não empreende, e depende do audiovisual, que é o que paga melhor, não vive porque não tem constância”, declarou. Garcia também ressaltou que os modelos de trabalho são frequentemente por obra e que, se o ator for bom, pode até ser chamado para trabalhos diários, mas deve garantir que não seja subvalorizado.
Com seu olhar afiado sobre as mudanças no mercado de trabalho e a qualidade da produção atual, Stênio Garcia segue sendo uma voz crítica e experiente no cenário das telenovelas brasileiras.
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