A Justiça de São Paulo aceitou, nesta terça-feira (20), a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e tornou réu Pablo Marçal (PRTB) por ter colocado em risco a vida de 32 pessoas durante uma escalada no Pico dos Marins, no interior de São Paulo, em janeiro de 2022.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/e/2/xkOZ22TeSeOhvoPCZCew/figjtblwqai6o-x.png)
O coach motivacional Pablo Marçal no Pico dos Marins, no interior de SP — Foto: Reprodução/Instagram
A juíza Rafaela D. Assunção Cardoso Glioche, da Comarca de Piquete, afirmou na decisão que a denúncia do MPSP contém apontamentos adequados e suficientes para ser aceita. Além disso, a magistrada cita o inquérito policial aberto a respeito do caso para tornar o coach e empresário réu por homicídio privilegiado.
O que diz a defesa de Marçal
Em nota, a defesa do empresário diz que recusou um acordo com o MPSP visto que “não há qualquer materialidade ou prova que aponte Pablo Marçal como organizador ou responsável pelo evento”.
Além disso, o advogado Tassio Renam, advogado de Marçal, citou o relatório elaborado pelo delegado Francisco Sannini,que atestou Pablo Marçal como organizador ou responsável pelo evento. “Seguimos confiando na Justiça e na expectativa de uma decisão justa e imparcial”, declarou Tassio, no posicionamento.
Investigação
O coach passou a ser investigado após ter liderado um grupo de 32 pessoas, sem equipamentos, em direção ao topo da montanha na Serra da Mantiqueira, uma das mais altas do estado paulista. Ao longo da escalada, um vendaval atingiu a região, mas a atividade seguiu.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/m/F/cGEt8GR7AjEBoLQKIQSQ/globo-canal-4-20230918-1959-frame-75380.jpeg)
Pico dos Marins, em Piquete (SP) — Foto: Reprodução/Jornal Nacional
Um primeiro inquérito policial, realizado em dezembro de 2022, não conseguiu averiguar a responsabilidade do influenciador na ocorrência, mas teve resultado questionado pelo MPSP, por ter sido, segundo o órgão, uma investigação prematura e ineficaz.
Após a denúncia, o caso voltou a ser apurado pela Polícia Civil de Piquete, cidade onde aconteceu a subida. Segundo o Metrópoles, em setembro de 2024, 13 ex-alunos de Pablo Marçal inocentaram o empresário no caso e afirmaram que a decisão de subir o Pico, cujo cume fica a 2,4 km de altitude, foi coletiva.
Apesar de os depoimentos contarem a favor de Marçal, investigadores também levaram em consideração um vídeo no qual o coach encoraja os aprendizes a não desistirem da trilha, mesmo com vendavais e baixa visibilidade na região montanhosa.
O influenciador foi acusado de colocar em risco a saúde dos participantes, o que foi negado pela defesa à época. Ele se disse perseguido pelo MPSP e afirmou que o caso só é investigado por ele se tratar de uma figura pública.
Relembre
A escalada ocorreu nos dias 4 e 5 de janeiro de 2022, em um período considerado crítico para a subida ao Pico e sob a alegação de que as pessoas precisavam encarar a escalada para “vencer na vida“.
A jornada foi toda registrada nas redes sociais de Marçal e, nos vídeos, é possível ver que, já na saída para a caminhada, as condições climáticas não eram apropriadas. Mesmo assim, Marçal insistiu na continuidade da expedição, fazendo uma oração para que Deus pudesse “parar o vento”.
“Eu sei no meu coração que dá pra subir. Vai ser a pior experiência de todas. Nós sabemos que, do jeito que está aqui, não dá para subir. Mas uns pararam o sol, outros voltaram o tempo. A gente não tá pedindo nada disso. Só estamos pedindo para o Senhor desviar o vento”, afirmou Marçal na oração.
Ele compartilhou vídeos que mostram as pessoas relatando cansaço, frio e querendo desistir da “expedição” enquanto eram convencidas por ele de que a circunstância “era uma chance de crescimento” e que era preciso “vencer os medos”.
Riscos e desistências
De acordo com o Ministério Público de SP, Marçal e seus seguidores saíram da base do Pico dos Marins em grupos distintos, mas, durante o trajeto, a chuva aumentou, além de neblina, vento forte e pouca visibilidade.
O MP alega que os seguidores se reuniram próximo ao Morro do Careca e que Marçal apontou os próximos passos do grupo, sendo que um dos guias contratados por ele alertou que “era inviável prosseguir, advertindo-o dos riscos”.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/C/Q/mHeQu3RhCWT6PdCAibuA/marcal.jpg)
Imagem de arquivo – Marçal ironiza quem classificou como irresponsabilidade a subida — Foto: Divulgação
Alguns dos seguidores desistiram da ideia de tentar chegar ao cume e resolveram retornar à base do Pico dos Marins. No entanto, o grupo de 32 pessoas que resolveu seguir continuou enfrentando condições adversas, segundo o MP, como rajadas de ventos de 100 km/h e visibilidade de, no máximo, 10 metros.
Ainda de acordo com o MP, na madrugada do dia 5 de janeiro de 2022, por volta das 4h, um dos seguidores que prosseguiu na escalada resolveu pedir socorro e conseguiu contato via rádio com o guia que havia sido contratado por Marçal – e que foi chamado de ‘covarde’ pelo empresário.
Busca dos bombeiros
O Corpo de Bombeiros iniciou a procura pelo grupo por volta das 6h do dia 5 e, depois de cerca de duas horas de caminhada, os bombeiros encontraram o primeiro grupo – de 14 pessoas -, distantes a 1,5 km do cume do Pico dos Marins.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/Q/n/AfgLDcTvm9kZB0kH3XLQ/01.jpeg)
Bombeiros mobilizaram operação para resgatar 32 turistas no Pico dos Marins — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
Segundo o MP, eles estavam “sem nenhum guia, com roupas inapropriadas para a travessia e encharcadas, parcialmente acampados fora da trilha do Pico dos Marins, os quais foram localizados pelos gritos, todos psicologicamente abalados”.
“Daí em diante, os bombeiros finalizaram o socorro aos dois grupos perdidos no Pico dos Marins, donde os 32 integrantes estavam à mercê de perigo direto e iminente, com risco à vida e saúde, por uma expedição coordenada e idealizada pelo denunciado”, informou o MP.
Críticas dos bombeiros
À época, os bombeiros que participaram do resgate criticaram a ação de Marçal e afirmaram que “ele foi totalmente irresponsável” na condução do grupo. A subida do Marins é recomendada apenas nos períodos de estiagem (meses de abril a agosto), com guia e equipamentos de segurança.
“Ele foi totalmente irresponsável. Subir com um grupo de pessoas despreparadas e sem equipamento é colocá-las sob risco de morte. Essa foi a pior ação que a gente viu no Pico dos Marins”, afirmou Paulo Roberto Reis, capitão dos Bombeiros na ocasião e chefe da operação de resgate.
O tenente Pedro Aihara, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, compartilhou stories no Instagram, logo após o incidente. Com um tom de indignação, o oficial relatou a situação enfrentada pela equipe para resgatar o grupo de turistas em segurança.
“Um ‘coach’ irresponsável fanfarrão coloca 60 pessoas para subir o Pico do Marins debaixo de chuva. Sem conhecimento técnico, sem suporte adequado, sem estrutura, porque, segundo ele, ‘é tudo emocional’. PS: respeito profundamente quem exerce adequadamente a profissão de coach, que definitivamente não é o caso desse indivíduo”, comentou o militar, na época.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/B/R/VzaDbBTACJ4rlpsRyQ4w/bombeiro-critica.jpg)
Bombeiro critica ‘expedição’ de Coach no Pico dos Marins que terminou com 32 resgatados — Foto: Reprodução
Desde o caso da escalada do Pico dos Marins, Marçal está proibido judicialmente de realizar qualquer atividade em montanhas, picos, rios, lagos, mares, ou em locais correlatos, que envolva a si ou outras pessoas, sem autorização da Polícia Militar.
Confira a seguir: Padre Fábio de Melo desabafa após polêmica demissão de gerente de cafeteria: “A um passo de desistir”.
O que você achou dessa notícia?