Todos os anos, milhares de pessoas sobem ao monte Bromo, um vulcão ativo no leste da ilha indonésia de Java, para celebrar uma cerimônia religiosa na qual oferendas são lançadas dentro da cratera fumegante. Durante as festas de Yadnya Kasada, membros da tribo dos Tengger – que vêm do interior da ilha -, lançam frutas, verduras, flores e até animais, como cabras e galinhas, no centro do vulcão como forma de ritual. Outros habitantes, que não pertenecem a esta tribo, se posicionam nas margens da cratera para tentar pegar essas oferendas com a ajuda de redes, afim de evitar desperdícios.

Grupo escala monte em Probolinggo, na Indonésia, para lançar oferendas - Foto: Antara Foto/Ari Bowo Sucipto/via REUTERS

Grupo escala monte em Probolinggo, na Indonésia, para lançar oferendas – Foto: Antara Foto/Ari Bowo Sucipto/via REUTERS

Yadnya Kasada, também conhecido como Kesodo, é um ritual hindu tradicional do povo Tenggerese, um subgrupo étnico dos javaneses que vive em região montanhosa na Indonésia. O ritual serve como uma forma de expressar gratidão a seus deuses, a quem eles acreditam ter concedido bênçãos, abundância e bem-estar.

Ritual hindu em vulcão ativo na Indonésia — Foto: AFP

Ritual hindu em vulcão ativo na Indonésia — Foto: AFP

A história

O ritual remonta a uma lenda do século XV acerca da princesa Roro Anteng do reino de Majapahit e seu marido Joko Seger. Sem filhos após vários anos casados, eles imploram aos deuses, que ouvem suas preces e lhes prometem 25 filhos se aceitassem sacrificar o mais jovem, lançando-o ao monte Bromo.

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Homem tenta pegar galinha durante cerimônia de Yadnya Kasada no monte Bromo, na Indónesia — Foto: ASSOCIATED PRESS

Homem tenta pegar galinha durante cerimônia de Yadnya Kasada no monte Bromo, na Indónesia — Foto: ASSOCIATED PRESS

Diz a lenda que o pedido dos deuses foi atendido, e assim a tradição de oferecer sacrifícios jogados no vulcão para apaziguar as divindades continua até hoje, mas, é claro, sem sacrifícios humanos. Em vez disso, hoje galinhas, cabras e vegetais são jogados na cratera como sacrifício.

Já de acordo com outra versão da lenda, o casal não cumpriu a promessa. Os deuses teriam se irritado e ameaçado infligir uma catástrofe, e então, em circunstâncias tempestuosas, uma cratera escura como breu no Monte Bromo foi atingida por fogo.

Seu filho mais novo, Kesuma, desapareceu da vista do fogo e, na cratera de Bromo, junto com o desaparecimento de Kesuma, ouviu-se uma voz invisível: “Meus queridos amigos, fui sacrificado por nossos pais e Sang Hyang Widhi salvou todos vocês. Vivam em paz e serenidade, adorem Sang Hyang Widhi. Lembro-lhes que, todo mês de Kasada, no 14º dia, façam oferendas a Sang Hyang Widhi na cratera do Monte Bromo”. A tradição do sacrifício continua até hoje – embora atualmente os Tengger sacrifiquem suas colheitas e animais de fazenda em vez de humanos.

Ritual parecido na cultura Inca

Em outras culturas, como a Inca, sacrifícios humanos – incluindo crianças – eram realizados em cumes de montanhas, incluindo vulcões ativos, com o objetivo de garantir a proteção contra erupções e outras calamidades naturais. Nas últimas décadas, em meio à exploração dos picos andinos mais importantes, arqueólogos encontraram plataformas de sacrifício e, em muitas delas, evidências das oferendas humanas.

A abertura de uma das tumbas no topo do Misti, em 15 de setembro de 1998 - Foto: Museo Santuarios Andinos - Johan Reinhard / BBC News Brasil

A abertura de uma das tumbas no topo do Misti, em 15 de setembro de 1998 – Foto: Museo Santuarios Andinos – Johan Reinhard / BBC News Brasil

As descobertas mais importantes foram Juanita (1995), nos Andes peruanos, e as Crianças de Llullaillaco (1999), nos Andes argentinos. Os corpos estavam congelados, em condições quase perfeitas. Um sacrifício realizado no Misti, vulcão próximo da cidade de Arequipa, no Peru, foi um dos que mais despertaram interesse. Estudos recentes revelaram que oito crianças foram mortas na cratera do vulcão, no maior ritual inca desse tipo descoberto até hoje.

Sacrifícios ou oferendas?

Os rituais de sacrifícios humanos às divindades eram conhecidos como “capacochas”. Arqueólogos preferem falar sobre oferendas humanas e não sacrifícios, porque tomar parte disso não era algo inesperado e forçado — as vítimas eram criadas especialmente para esse fim, e suas famílias adquiriam benefícios e prestígio dentro da comunidade.

Os restos mortais de sacrifícios humanos no Misti foram mantidos congelados antes de serem estudados - Foto: Museo Santuarios Andinos / BBC News Brasil

Os restos mortais de sacrifícios humanos no Misti foram mantidos congelados antes de serem estudados – Foto: Museo Santuarios Andinos / BBC News Brasil

As capacochas imperiais eram feitas em ocasiões como o nascimento do herdeiro do trono, uma guerra ou a doença ou morte de um governante. Nas aldeias, havia também capacochas locais, que eram feitas principalmente por catástrofes naturais e eram autorizadas pelo soberano. As vítimas eram meninos e meninas por causa de sua pureza.

As meninas eram entregues ainda muito jovens por suas famílias para serem criadas nos acllahuasi, que seria “a casa das mulheres escolhidas”. Ali, eram selecionadas para os sacrifícios. Elas eram sacrificadas ainda crianças ou adolescentes, mas os homens eram sempre sacrificados enquanto crianças porque, não sendo criados em uma instituição especial, poderiam perder sua pureza na puberdade.

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Você conhecia esses rituais? 

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