A brasileira Juliana Marins, de 26 anos, faleceu após desaparecer durante uma trilha no Monte Rinjani, um vulcão localizado na Indonésia. Segundo a também brasileira Lívia Ceroni, que já percorreu o mesmo trajeto, o local e os guias que atuam ali não estão preparados para lidar com situações de emergência.

Juliana Marins foi achada morta em trilha de vulcão; Monte Rinjani, na Indonésia — Foto: Skyseeker/Flickr/Creative Commons

Juliana Marins foi achada morta em trilha de vulcão; Monte Rinjani, na Indonésia — Foto: Skyseeker/Flickr/Creative Commons

Em entrevista ao UOL, Lívia relatou sua experiência no Parque Nacional do Monte Rinjani. A trilha, que pode ser feita em dois ou três dias, é considerada uma das mais difíceis da Indonésia. O cume do vulcão atinge 3.726 metros de altitude (12.224 pés), sendo o segundo mais alto do país asiático e um dos destinos favoritos entre viajantes aventureiros.

Problemas com guias

Lívia alerta que os profissionais que se apresentam como “guias” no local, na prática, atuam mais como carregadores, transportando barracas, alimentos e equipamentos, do que como condutores com preparo técnico para orientar os turistas durante o percurso.

[A maioria dos guias do parque] não tem preparo para lidar com emergências ou dar suporte real”, afirmou. Ela destacou que o trabalho braçal exigido dos guias torna a jornada ainda mais exaustiva e arriscada. “É muito puxado. Eles sobem com muita coisa nas costas, fazem um esforço que chega a ser desumano às vezes”, disse.

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Há 11 anos, a empresária Carol Moreno, de Curitiba, se viu em desespero ao ser deixada para trás por guias durante a trilha no Monte Rinjani, na Ilha de Lombok, na Indonésia. A empresária curitibana contou ao g1 que fez o mesmo percurso de Juliana durante uma viagem pela Ásia, em 2014. Ela destacou que, na época, a falta de estrutura e de orientação adequada era evidente.

Carol Moreno no Monte Rinjani — Foto: Arquivo pessoal

Carol Moreno no Monte Rinjani — Foto: Arquivo pessoal

Ela relatou que assim como Juliana, foi abandonada pelo guia. Mesmo com o auxílio de um cajado e uma lanterna, sentiu dificuldade e acabou sendo deixada para trás pelo guia, que seguiu com o restante do grupo. Apesar do susto, Carol conseguiu completar a trilha e não sofreu ferimentos.

Perigo constante do solo

Lívia também comentou sobre a área onde Juliana desapareceu – e acabou perdendo a vida após mais de quatro dias sem mantimentos ou socorro. Segundo ela, trata-se de um “lugar super-remoto, sem estrutura nenhuma”. “Não é um caminho fácil. Em vários trechos, a subida é bem íngreme, escorregadia e você precisa estar o tempo todo muito atento. Mesmo com cuidado, é fácil de escorregar ou cair. O local é lindo, mas exige bastante cuidado”, relatou.

A falta de estrutura, somada ao terreno íngreme, à instabilidade climática e à forte neblina, tornam o desafio ainda maior. Ceroni reconhece que, apesar dos alertas, muitos turistas – inclusive ela – não têm real noção da dificuldade da trilha.

Monte Rinjani — Foto: Arquivo pessoal/Carol Moreno

Monte Rinjani — Foto: Arquivo pessoal/Carol Moreno

“O trajeto em si é muito desafiador: em vários pontos é estreito, perto de barrancos, e o solo é feito de pedra vulcânica, terra solta, o que faz escorregar com facilidade. Em muitos trechos, não tem onde se segurar, então é comum perder o equilíbrio”, contou.

“Eu escorreguei e caí algumas vezes, voltei toda roxa, mas nada grave. É algo normal durante o caminho por causa da geografia do lugar, da altitude e da instabilidade do terreno. Então, sem dúvida, o mais difícil pra mim foi a falta de preparo físico e o trajeto em si”, revelou.

Frio intenso e comida racionada

A triatleta e maratonista Isabel Leoni, que também já esteve no local, reforçou que a trilha exige “muito esforço, preparo e técnica”. Segundo ela, é comum que os visitantes subestimem a montanha e, assim como Lívia, também relatou a ausência de orientações adequadas por parte dos guias. “Eu era inexperiente [quando fiz a subida].

“Se hoje eu fosse para lá, levaria uma garrafa de água, comida, isotônicos e remédio”, declarou, em entrevista à Agência Brasil. A atleta também destacou que os guias costumam racionar água e comida, oferecendo quantidades mínimas aos turistas. Além disso, chamou atenção para o frio intenso enfrentado durante o trajeto.

“Os guias não avisam direito sobre o que vamos enfrentar. Eles vivem em situações muito precárias de trabalho. Faziam a trilha de chinelo. Não há protocolos informando quais são os equipamentos obrigatórios, como casacos e sacos de dormir […] Eu estava com poucos casacos. Meus dedos dos pés congelavam. Eu não conseguia andar de tanto frio”, recordou.

Tragédia

Natural de Niterói (RJ), Juliana Marins era formada em Publicidade e Propaganda pela UFRJ e apaixonada por artes e viagens. Desde fevereiro, ela realizava um mochilão pela Ásia, tendo passado por Filipinas, Vietnã e Tailândia antes de seguir para a Indonésia, onde sua jornada teve um desfecho trágico.

Juliana adquiriu um pacote de escalada até o cume do Monte Rinjani por 2 milhões de rupias indonésias – cerca de R$ 667 na cotação atual. Ela escolheu a trilha de três dias, considerada uma das menos intensas. O valor incluía alimentação e bebidas.

A jovem desapareceu na última sexta-feira (20), após cair em uma fenda no Monte Rinjani. As buscas duraram quatro dias e foram marcadas por desafios. As equipes de resgate enfrentaram dificuldades para acessar o local, lidaram com condições climáticas adversas, falhas nos equipamentos, como o uso de uma corda curta, e se atrapalharam ao fornecer informações inexatas à família.

O corpo de Juliana foi localizado já sem vida na terça-feira (24), após dias de esforços intensos por parte das equipes de resgate. A operação de retirada contou com o apoio de três grupos de salvamento, incluindo integrantes do esquadrão Rinjani, além de voluntários que auxiliaram nos trabalhos.

Confira a seguir: Irmã de Juliana Marins emociona com texto de despedida: “Desculpa não ter sido suficiente”.

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