Com a decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (04), o Brasil chega à quarta prisão de um ex-presidente da República em apenas sete anos. Bolsonaro, que governou o país de 2019 a 2022, foi preso por descumprir medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele se junta à lista que já incluía Lula, Michel Temer e Fernando Collor de Mello — quatro dos oito presidentes brasileiros desde o fim da ditadura militar em 1985.
Outros ex-mandatários, como José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, jamais foram presos. Já Dilma Rousseff foi detida durante a ditadura, entre 1970 e 1972, por sua atuação em grupos de resistência ao regime. Abaixo, veja os motivos que levaram à prisão de cada um desses ex-presidentes.

Foto da ficha criminal de Dilma Rousseff, de 16 de janeiro de 1970. Ela foi presa aos 22 anos em São Paulo e torturada por 22 dias com palmatória, socos, pau-de-arara e choques elétricos — Foto: Reprodução / Departamento de Ordem Politica e Social / AFP
Jair Bolsonaro (2025)
O ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo julgado pelo STF por tentativa de golpe de Estado, mas ainda não foi condenado nesse processo. Sua prisão domiciliar foi decretada por Alexandre de Moraes após ele descumprir medidas cautelares. Essas medidas, impostas em julho, incluíam uso de tornozeleira eletrônica, proibição de usar redes sociais, e recolhimento domiciliar noturno e aos fins de semana. Segundo o ministro, Bolsonaro teria violado essas restrições ao se manifestar publicamente e interagir com apoiadores por meio de vídeos e chamadas de vídeo, incluindo publicações nas redes sociais dos filhos e aliados.
Moraes argumentou que o ex-presidente agiu intencionalmente para instigar ataques ao STF, produzindo material com o objetivo de pressionar o tribunal. Entre os episódios citados, estão a participação de Bolsonaro em uma chamada de vídeo com o deputado Nikolas Ferreira e um telefonema veiculado nas redes sociais de Flávio Bolsonaro.

Ex-presidente Jair Bolsonaro / Crédito: Carlos Moura/Agência Senado
Apesar de responder por descumprimento de medidas judiciais, Bolsonaro continua sendo investigado por supostamente liderar uma tentativa de golpe após perder as eleições de 2022 para Lula. A Procuradoria-Geral da República (PGR) o aponta como peça-chave de um “núcleo” responsável pela elaboração de minutas golpistas que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
Luiz Inácio Lula da Silva (2018–2019)
O atual presidente Lula ficou preso por 580 dias entre 2018 e 2019, após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Ele cumpriu pena na sede da Polícia Federal em Curitiba. As condenações referiam-se aos casos do tríplex no Guarujá e do sítio de Atibaia, em que o ex-presidente foi acusado de receber vantagens indevidas de empreiteiras em troca de contratos com a Petrobras. A defesa sempre alegou que Lula nunca foi proprietário dos imóveis.

Theo Marques/UOL/Folhapress/ND
Mais tarde, o STF anulou as condenações, considerando que os processos não tramitaram no foro adequado e que o então juiz Sergio Moro agiu de forma parcial. As decisões restabeleceram os direitos políticos de Lula, permitindo sua candidatura em 2022 — quando foi eleito novamente presidente. Com a anulação, Lula voltou a ser considerado inocente pela Justiça, e os processos acabaram prescritos sem nova condenação.
Michel Temer (2019)
Presidente entre 2016 e 2018, Michel Temer foi preso duas vezes em 2019 por suspeitas de corrupção relacionadas à construção da usina nuclear Angra 3. A detenção foi autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, no Rio de Janeiro, como desdobramento da Lava Jato. Temer foi solto poucos dias depois, mas voltou à prisão em maio, antes de obter nova liberdade por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). As investigações apontavam que ele integrava um esquema de fraude em licitações e recebimento de propinas, beneficiando empresas ligadas a aliados, como o coronel João Baptista Lima Filho.

Michel Temer – Marcelo Chello (EFE)
Temer também foi citado em outras investigações, como a da JBS, mas nunca chegou a ser condenado. Várias ações foram arquivadas por falta de provas. Em 2021, Moraes anulou duas ações penais sobre Angra 3, transferindo os casos para o Distrito Federal. Lá, a acusação foi rejeitada por falta de fundamentação, e a decisão foi mantida pelo TRF1 em 2023.
Fernando Collor de Mello (2025)
Collor, presidente entre 1990 e 1992, foi preso em abril de 2025, após o esgotamento dos recursos no processo em que foi condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A condenação decorre de um esquema de desvios na BR Distribuidora, identificado pela Lava Jato. Segundo a Justiça, Collor recebeu cerca de R$ 20 milhões em propinas para facilitar contratos entre a estatal e a UTC Engenharia. Ele usava sua influência para indicar diretores e favorecer as negociações.

EVARISTO SA/AFP via Getty Images
Inicialmente levado ao presídio Baldomero Cavalcanti, em Maceió, Collor teve sua pena convertida em prisão domiciliar por decisão de Moraes, que acatou argumentos da defesa sobre problemas de saúde, incluindo doença de Parkinson. Entre as restrições, Collor está obrigado a usar tornozeleira eletrônica, não pode sair de casa nem receber visitas fora do círculo familiar, jurídico ou médico, e teve o passaporte suspenso.
Apesar de ter renunciado em 1992 para evitar o impeachment, o Senado prosseguiu com a cassação de seus direitos políticos. Collor retornou à política em 2006, como senador por Alagoas, cargo que exerceu até 2022. Atualmente, cumpre sua pena em prisão domiciliar em um apartamento em área nobre de Maceió.
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