No coração montanhoso do norte da Turquia, a poucas horas do Mar Negro, uma cena improvável se ergue como um eco de um sonho que nunca se concretizou. Fileiras de mini-castelos brancos, com torres pontiagudas e fachadas idênticas, repousam lado a lado em um vale silencioso. De longe, parecem um cenário de conto de fadas. De perto, o silêncio revela outra história — a de um projeto de 200 milhões de dólares que hoje é lembrado como um dos empreendimentos imobiliários mais curiosos (e tristes) do mundo moderno.
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O sonho que nasceu de uma ambição colossal
Tudo começou em 2014, quando o Grupo Sarot, uma incorporadora turca, anunciou o projeto Burj Al Babas: um condomínio de luxo inspirado em castelos europeus. A promessa era tentadora — casas de alto padrão com interiores suntuosos, piscinas térmicas, spas, banhos turcos e até um shopping dentro do complexo. Cada vila, com cerca de 300 m², seria vendida por valores entre US$ 370 mil e US$ 530 mil, voltadas principalmente para investidores do Oriente Médio.
Em pouco tempo, o terreno de 100 hectares começou a ser tomado por estruturas idênticas, erguidas lado a lado como peças de um gigantesco tabuleiro medieval. O plano era construir mais de 700 castelos, todos seguindo o mesmo padrão arquitetônico: torres altas, varandas ornamentadas e telhados escuros em formato cônico — uma estética entre o luxo europeu e o delírio megalomaníaco.
O castelo de cartas que desabou
Por alguns anos, as vendas avançaram. Mas, em 2018, a maré virou. A economia turca enfrentava uma crise severa, e muitos dos compradores estrangeiros — especialmente de países do Golfo — cancelaram contratos ou deixaram de pagar parcelas. Segundo o presidente do grupo, Mehmet Emin Yerdelen, mais de US$ 7,5 milhões em pagamentos não foram recebidos, comprometendo toda a operação.
Sem dinheiro e atolados em dívidas, os empreendedores tentaram um último recurso: pedir proteção contra falência. O pedido foi negado, e o canteiro de obras, que já abrigava centenas de castelos semiacabados, foi abandonado. Em poucos meses, o que era para ser um símbolo de prosperidade se transformou em uma cidade fantasma, com 587 construções inacabadas e sem condições de habitação.
O espetáculo do vazio
Hoje, quem visita Burj Al Babas se depara com uma paisagem surreal. Casas idênticas se estendem até onde a vista alcança, cercadas por mato alto e concreto rachado. Algumas torres perderam telhas, outras foram invadidas pela vegetação. Nenhum morador, nenhuma vida. Apenas o som do vento ecoando pelos corredores vazios.
De tempos em tempos, fotógrafos e exploradores urbanos visitam o local. As imagens são hipnotizantes: centenas de castelos brancos abandonados, dispostos lado a lado como se esperassem por reis e rainhas que jamais virão. Para muitos, Burj Al Babas parece mais um cenário de filme pós-apocalíptico do que um investimento imobiliário.

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Entre o sonho e o delírio
O contraste entre a promessa e a realidade é o que mais intriga quem conhece a história. O projeto foi anunciado como um marco de modernidade, um destino de luxo para famílias abastadas — mas acabou virando símbolo de excesso e fracasso. A ideia de construir centenas de castelos idênticos, longe de grandes centros e sem demanda real, revela um erro clássico: acreditar que a aparência do luxo é o bastante para sustentá-lo.
A ironia é que, mesmo inacabado, o lugar continua atraindo olhares do mundo inteiro. Burj Al Babas virou tema de reportagens, vídeos, teorias e documentários. É o tipo de história que desperta fascínio justamente por parecer inacreditável — uma fantasia que o tempo transformou em ruína.
O futuro incerto dos castelos esquecidos
Oficialmente, parte do terreno ainda pertence ao Grupo Sarot, mas o projeto está congelado. Há discussões sobre revitalizar parte das construções, ou até transformá-las em um parque temático ou complexo turístico, mas nenhuma proposta saiu do papel. Enquanto isso, os castelos seguem lá, desabitados, resistindo à chuva e ao tempo — monumentos de um sonho que virou fantasma.
Burj Al Babas permanece como um lembrete poderoso:
que até as visões mais grandiosas podem ruir quando a ambição ultrapassa a realidade.