A construção com materiais reciclados já rendeu projetos surpreendentes ao redor do mundo, desde templos budistas até vilas inteiras feitas de vidro reaproveitado, como a Vila da Garrafa da Vovó Prisbey, na Califórnia. Mas a ideia de unir embalagens e construção é ainda mais antiga: nos anos 1960, a cervejaria Heineken desenvolveu um projeto inovador chamado WOBO, uma garrafa retangular que podia ser usada como tijolo para erguer casas após o consumo da bebida.
A iniciativa surgiu quando Alfred “Freddy” Heineken, neto do fundador da marca, visitou a ilha de Curaçao e se deparou com praias cobertas de garrafas de sua cerveja, enquanto comunidades locais enfrentavam escassez de materiais de construção. Inspirado pelo problema do lixo e pela necessidade de moradias, Freddy propôs uma garrafa que servisse tanto como recipiente para a bebida quanto como tijolo de vidro, fácil de empilhar com argamassa ou cimento. Uma construção simples de 3 x 3 metros poderia exigir cerca de mil garrafas WOBO.

Fonte: De Olho na Engenharia
O design final, desenvolvido em parceria com o arquiteto John Habraken, tinha versões de 35 e 50 centímetros, sendo que a menor funcionava como meio-tijolo para nivelar as fileiras. O projeto passou por diversos protótipos e ajustes, inclusive reforço do vidro para permitir o uso horizontal, mas acabou não sendo comercializado devido ao custo elevado e à preferência dos consumidores pelas garrafas cilíndricas tradicionais, mais práticas para manuseio.
Apesar disso, em 1965, um protótipo de casa foi construído nos arredores de Amsterdã usando as garrafas WOBO, com até os paletes de transporte reaproveitados como cobertura. Essas construções permanecem de pé até hoje e podem ser visitadas no museu Heineken Experience, lembrando que inovação e sustentabilidade sempre caminharam lado a lado na história da marca.