Quatro membros de uma mesma família foram hospitalizados em Patrocínio, no Alto Paranaíba (MG), após consumirem uma planta venenosa conhecida como “falsa couve” durante o almoço. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, três deles continuam internados em estado grave, entubados e em coma induzido. A quarta vítima já recebeu alta médica. De acordo com as autoridades, todos sofreram parada cardiorrespiratória, revertida ainda na quarta-feira (8). Ainda não há previsão de quando os pacientes poderão sair do coma.
A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso e trabalha com a hipótese de envenenamento acidental. A planta ingerida foi identificada como Nicotiana glauca, também chamada de charuteira, tabaco-arbóreo ou fumo-bravo, espécie altamente tóxica que pode causar intoxicação grave e até levar à morte. O vegetal foi colhido na própria chácara da família e preparado refogado. Amostras das folhas e fragmentos encontrados na arcada dentária de uma das vítimas foram encaminhados para análise na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. Uma criança de dois anos também foi levada ao hospital apenas para observação, pois não chegou a ingerir o alimento.
A Nicotiana glauca é comum em áreas rurais e nas margens de estradas em todo o país. Sua ingestão pode provocar sintomas como náuseas, vômitos, arritmia cardíaca, convulsões e insuficiência respiratória.

Nicotiana glauca — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
Atualização do estado de saúde das vítimas
Segundo boletim divulgado neste domingo (12) pela secretária de Saúde de Patrocínio, Luciana Rocha, o quadro das vítimas evoluiu de formas distintas:
- Homem, 60 anos: permanece em estado grave, em coma induzido e dependente de aparelhos para respirar. A equipe médica aguarda resposta ao novo antibiótico para avaliar a redução da sedação.
- Homem, 64 anos: foi extubado no sábado (11) e está clinicamente estável. Os médicos consideram a possibilidade de alta nos próximos dias.
- Mulher, 37 anos: apresenta quadro muito grave. Apesar de estar sem sedação, ainda não apresenta resposta neurológica. Exames apontaram lesão cerebral severa com possibilidade de sequelas.
O quarto paciente, um homem de 67 anos, recebeu alta hospitalar na quinta-feira (9).

Reprodução/Itatiaia
Como ocorreu a intoxicação
O caso aconteceu durante um almoço em família, em uma chácara na zona rural do município. A planta foi colhida no próprio terreno e servida refogada. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a família havia se mudado recentemente para o local e acreditava que a planta era couve, por conta da aparência semelhante. Pouco tempo após a refeição, as vítimas começaram a passar mal e apresentaram sinais de envenenamento. Elas foram socorridas por equipes do Corpo de Bombeiros, do Samu e da Polícia Militar, e algumas chegaram a sofrer parada cardiorrespiratória, revertida ainda no local.
Como diferenciar a “falsa couve” da verdadeira
A Nicotiana glauca tem características que a distinguem da couve tradicional, embora a semelhança possa confundir. Segundo a professora Amanda Danuello, especialista em química de produtos naturais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), as folhas da falsa couve são mais finas, com textura aveludada e coloração verde-acinzentada, enquanto a couve comestível apresenta folhas mais grossas e nervuras bem marcadas. A especialista reforça que a diferença pode passar despercebida quando as plantas não estão lado a lado, e recomenda evitar o consumo de vegetais de origem desconhecida.

Falsa couve tem folhas mais finas, textura aveludada e coloração verde acinzentado. — Foto: Polícia Militar/Divulgação
Toxicidade e riscos
A Nicotiana glauca contém anabazina, um alcaloide que pode causar paralisia muscular e respiratória, podendo levar à morte. Segundo Danuello, a forma de preparo influencia na intensidade da intoxicação — quando crua ou pouco cozida, a planta mantém maior concentração da substância tóxica. Ela ressalta que não existe antídoto caseiro para esse tipo de intoxicação. Em casos suspeitos, o ideal é buscar atendimento médico imediatamente, pois o tratamento rápido aumenta as chances de recuperação e reduz o risco de complicações graves.
Veja a seguir: Como a Heineken transformou garrafas em tijolos para ajudar pessoas carentes
Qual sua opinião sobre o caso?