O zumbido começou antes mesmo das câmeras rolarem. No set de filmagem de O Mistério de Candyman (1992), o ar vibrava com um tipo de tensão que não vinha apenas do terror roteirizado — mas de algo vivo. Literalmente vivo. Naquele dia, o ator Tony Todd estava prestes a entrar para a história do cinema com uma das cenas mais ousadas (e perigosas) já feitas: centenas de abelhas saindo de sua boca.

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Não era computação gráfica, não era truque. Eram abelhas reais.
A produção decidiu apostar na autenticidade absoluta — um risco calculado (ou nem tanto) que beirava a insanidade para os padrões atuais de segurança. As abelhas foram criadas especialmente para o filme: jovens o suficiente para que o ferrão não fosse letal, mas ainda assim, capazes de picar. Mesmo assim, o perigo era real — e Todd sabia disso desde o início.
Antes de colocar sequer uma abelha no set, o ator chamou seu advogado. O resultado foi um contrato lendário em Hollywood: US$ 1.000 por cada picada. Se uma abelha resolvesse “atuar demais”, ele seria devidamente compensado.

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O acordo acabou valendo a pena — e não apenas pela fama. Durante as gravações, Tony Todd foi picado 27 vezes. Um total de US$ 27.000 extras adicionados ao cachê, cada um marcado na pele e na história do cinema.
“Eu tinha um ótimo advogado”, brincaria o ator anos depois, relembrando o episódio com humor e uma pontada de orgulho. Mas a experiência foi tudo, menos leve. A cena envolveu cerca de 200 mil abelhas vivas, controladas por um apicultor que monitorava cada movimento. As tomadas precisavam ser rápidas e precisas — qualquer erro poderia virar tragédia.
E se a coragem de Todd impressiona, a de sua colega Virginia Madsen chega a beirar o inacreditável. A atriz, que contracenava de perto com as abelhas, era altamente alérgica às picadas. Paramédicos ficaram de prontidão em todos os takes, seringas de adrenalina nas mãos, prontos para agir se algo desse errado. Felizmente, nada deu.
O resultado, no entanto, compensou o risco. A cena tornou-se um dos momentos mais icônicos do terror dos anos 1990. A imagem de Tony Todd coberto por abelhas — calmo, imóvel, como se fosse parte do enxame — entrou para o imaginário coletivo do gênero. Não havia efeitos visuais capazes de substituir o impacto visceral daquela escolha.
Mas por trás do espetáculo, a cena virou também um caso de estudo sobre limites éticos e físicos do cinema. Até que ponto vale arriscar a integridade de um ator em nome da autenticidade? Em tempos de CGI, a história de Candyman soa quase surreal — um lembrete de uma era em que o medo era encenado, mas o risco era real.
Tony Todd sobreviveu às picadas e ao terror, mas ganhou mais do que dinheiro ou fama. Ganhou o respeito da indústria e a reputação de um profissional disposto a tudo pela arte — mesmo que isso significasse colocar 200 mil abelhas dentro do próprio corpo.
Décadas depois, a história ainda ecoa. Como um zumbido persistente, impossível de ignorar — e tão lendário quanto o próprio Candyman.