Durante décadas, acreditou-se que o relógio biológico era uma preocupação apenas feminina. Mas a ciência começa a revelar um detalhe que pode mudar essa percepção: o esperma masculino também envelhece — e, com ele, crescem silenciosamente mutações genéticas capazes de afetar a saúde dos filhos.

Pesquisadores que analisaram amostras de sêmen de homens entre 24 e 75 anos encontraram algo impressionante. Em indivíduos pouco acima dos 30, cerca de 1 em cada 50 espermatozoides já carrega mutações consideradas prejudiciais. Aos 70, essa proporção sobe para quase 1 em cada 20. Essas alterações estão ligadas a distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo, e até a alguns tipos de câncer infantil.

A explicação está em um fenômeno chamado “seleção espermatogonial egoísta”. Dentro dos testículos, as células-tronco responsáveis por produzir espermatozoides se multiplicam constantemente. Com o passar do tempo, algumas sofrem mutações que as fazem crescer e se dividir mais rápido que as demais. Essas “células egoístas” dominam a produção, deixando o esperma cada vez mais carregado de alterações genéticas — um tipo de evolução interna, invisível, mas de consequências reais.

Como ocorre a fecundação nos mamíferos? A fecundação nos mamíferos

Foto: Reprodução

Os pesquisadores identificaram mais de 40 genes ligados a esse processo. Muitos deles participam de mecanismos de desenvolvimento cerebral e controle do crescimento celular — o que explica a conexão entre a idade do pai e o aumento do risco de autismo, epilepsia e câncer em crianças.

Veja também: cupom de desconto exclusivo do site na Shopee aqui

Curiosamente, fatores como tabagismo e consumo de álcool parecem afetar muito mais o sangue do que o esperma. A grande responsável pelas mutações observadas foi a idade, e não o estilo de vida. Mesmo assim, os cientistas alertam que a soma de fatores ambientais com o envelhecimento pode amplificar os efeitos — principalmente em quem já ultrapassou os 50 anos.

Isso não significa que todo filho de um pai mais velho nascerá com problemas genéticos. A maioria das mutações é inofensiva ou sequer chega a ser transmitida. Mas o aumento estatístico é inegável — e explica por que os riscos de autismo e outras doenças sobem discretamente a cada década de vida paterna.

Alguns especialistas já sugerem que o planejamento reprodutivo leve em conta também a idade do homem, algo antes restrito ao universo feminino. Em casos de preocupação maior, há a opção de congelar sêmen ainda jovem ou recorrer a aconselhamento genético antes da concepção.

O estudo abre uma janela incômoda, mas necessária: o DNA que passamos adiante não é apenas fruto da genética herdada dos nossos pais — ele também muda enquanto vivemos. A cada ano, o esperma masculino carrega mais pequenas alterações, algumas neutras, outras potencialmente perigosas. E, mesmo que a maioria das crianças nasça perfeitamente saudável, o recado da ciência é claro: a idade paterna pesa mais na herança genética do que imaginávamos.

Categorized in:

Curiosidade,

Tagged in:

,