Há exatos 36 anos atrás, em 3 de setembro de 1989, o Brasil recebeu o Chile, no Maracanã, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1990. Ao final do jogo que recebeu 141.072 torcedores, dois improváveis personagens foram os destaques: Rojas e Rosinery Mello, a famosa Fogueteira do Maracanã.

Goleiro Roberto Rojas, da seleção do Chile, é atendido por companheiros após corte no rosto supostamente causado por sinalizador disparado por torcedora no Maracanã, em partida contra o Brasil em 1989 - Flávio Canalonga/Estadão

Goleiro Roberto Rojas, da seleção do Chile, é atendido por companheiros após corte no rosto supostamente causado por sinalizador disparado por torcedora no Maracanã, em partida contra o Brasil em 1989 – Flávio Canalonga/Estadão

Nos anos 1980 – principalmente na América Latina -, muitas disputas ultrapassaram as quatro linhas do gramado e fizeram aquela década palco de batalhas. Entre seleções, a situação era um pouco mais organizada, mas nada que impedisse a monumental confusão envolvendo Rojas, um dos melhores goleiros da história chilena. Além de uma série de eventos que poderiam inclusive tirar a Seleção Brasileira pela primeira vez de uma Copa do Mundo.

Naquela ocasião, a Seleção Brasileira, dirigida pelo contestado Sebastião Lazaroni, disputava as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1990 e, justamente, naquela noite de setembro enfrentaria o Chile pela última rodada do grupo 3, precisando de pelo menos um empate para conquistar a vaga no Mundial da Itália.

O Chile não veio ao Brasil para passear, e em caso de triunfo em solo carioca, os chilenos estariam classificados para a Copa eliminando o Brasil. O jogo não seria fácil e, se perdessem, venderiam caro a derrota. Foi com esse espírito, de vencer a qualquer custo, que o time chileno entrou em campo. O goleiro Roberto Rojas, no entanto, entrou no gramado com uma ideia um pouco além da motivação pela partida.

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O caso Rojas

Do rojão à farsa! Há 36 anos, o Brasil driblava um 'susto' e ia para a Copa - Foto: Reprodução

Do rojão à farsa! Há 36 anos, o Brasil driblava um ‘susto’ e ia para a Copa – Foto: Reprodução

Aos 24 minutos do segundo tempo, quando o Brasil vencia por 1 a 0, com gol de Careca, um lance mudou o rumo da partida e quase alterou o destino da Copa do Mundo que seria disputada no ano seguinte. Um sinalizador que caiu no gramado, aproximadamente a um metro de distância de Rojas, causou um escândalo que quase tirou o Brasil da Copa, um pequeno incidente diplomático e acabou com o banimento futebolístico do goleiro chileno.

Rojas, de maneira premeditada, foi a campo com uma lâmina dentro da luva e quando viu o sinalizador cair tão perto decidiu que era hora de colocar em ação seu plano. Na confusão o goleiro começou a se contorcer como se sentisse muita dor e sem que ninguém pudesse perceber, tirou as lâminas da luva e cortou o próprio supercílio.

Brasil quase perdeu a vaga

O sangue na roupa do goleiro assustou todos que se aproximaram e foram impactados com a dimensão da lesão. Às pressas o goleiro foi carregado aos vestiários do Maracanã, os jogadores chilenos também se recolheram e após meia hora de negativas da Seleção Chilena em retornar ao gramado, o árbitro da partida, Juan Carlos Lostau, encerrou o jogo.

Seleção chilena deixando o gramado - Foto: Reprodução

Seleção chilena deixando o gramado – Foto: Reprodução

O imbróglio estava armado e a vaga para a Copa do Mundo, provavelmente, seria decidida nos tribunais. A situação gerou inclusive um pequeno problema diplomático: jornais da época relataram que em Santiago, os torcedores comemoravam como se o Chile tivesse obtido a classificação e a embaixada brasileira foi apedrejada.

Rosinery Mello, apenas alguém no lugar errado

Rosinery Mello, que depois ficaria conhecida como a “Fogueteira do Maracanã”, foi a responsável pela controversa comemoração que possibilitou a encenação de Rojas, partiu dela o sinalizador atirado no gramado. Ela foi presa depois do jogo, depôs e junto a outras evidências, a farsa de Rojas começou a ruir.

À polícia, Rosinery contou que não tinha experiência com sinalizadores e que havia perdido o controle do artefato quando tentou acender e o explosivo tomou o rumo do gramado.Eurico Miranda, então diretor da CBF, foi o primeiro a denunciar a farsa. Dizia nos bastidores e a quem mais quisesse ouvir que “rojão não corta, e se cortasse, teria queimado o rosto do goleiro”.

Golpe descoberto

A prova cabal veio quando surgiram as primeiras fotografias do argentino Ricardo Alfieri que capturou as imagens do exato momento em que o rojão atinge o gramado do Maracanã a pelo menos um metro de distância de Rojas.

Caso Rojas: o dia que uma farsa quase tirou o Brasil da Copa - Foto: Reprodução

Caso Rojas: o dia que uma farsa quase tirou o Brasil da Copa – Foto: Reprodução

A sequência do fotógrafo argentino mostra claramente o goleiro chileno rolando para próximo do explosivo. No dia seguinte, o Jornal Nacional apresentou uma cobertura épica que em mais de nove minutos de reportagem desmontou a farsa de Rojas e colocou o goleiro chileno como um dos grandes vilões do Brasil nos anos 1980.

Descoberto o golpe, as punições começaram com uma celeridade e severidade poucas vezes vista em decisões da FIFA. A Seleção Chilena foi suspensa por quatro anos das competições organizadas pela instituição e não pôde sequer disputar as Eliminatórias para a Copa de 1994.

Goleiro Rojas - Foto: Reprodução

Goleiro Rojas – Foto: Reprodução

Astengo, o zagueiro que apareceu ao lado do goleiro no momento do lance, foi suspenso por quatro anos. O técnico Orlando Aravena, o médico Daniel Rodríguez e o dirigente Sergio Stoppel foram banidos permanentemente do futebol assim como Roberto Rojas, mas o goleiro recebeu em 2001 uma anistia. Recentemente em entrevista a Benjamin Back, Rojas admitiu o erro: “Me cortei com uma gilete e a farsa foi descoberta. Foi um corte à minha dignidade. Foi um minuto de estupidez”.

Jornal da época - Foto: Reprodução

Jornal da época – Foto: Reprodução

Depois da farsa

Além dos efeitos futebolísticos o caso teve um desdobramento que não é privilégio da atualidade: concedeu 15 minutos de fama a alguém, Rosinery Mello foi a agraciada da vez. Depois da prisão em flagrante, foi solta quando descobriu-se a farsa e chegou a fazer certo sucesso, principalmente com o público masculino da época, fato que a levou a posar nua e ser capa da revista Playboy. O apelido pegou e a perseguiu até sua prematura morte, em 2011, aos 45 anos, vítima de um aneurisma cerebral.

Fogueteira do Maracanã - Foto: Reprodução

Fogueteira do Maracanã – Foto: Reprodução

Após o perdão da FIFA, Roberto Rojas se tornou um grande treinador de goleiros e marcou época no São Paulo, time que o contratou do Colo Colo ainda como atleta e que com a punição, havia ficado sem o ótimo goleiro chileno. Na nova função no Tricolor do Morumbi, Rojas acabou se redimindo ao treinar Rogério Ceni durante boa parte de sua carreira.

Confira a seguir: Quanto os jogadores convocados pela Seleção Brasileira ganham da CBF?

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