O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo emitiu um alerta sobre os riscos de intoxicação por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. A preocupação surgiu após a identificação de casos recentes em que a substância foi encontrada em destilados consumidos principalmente por jovens adultos. Segundo Eliane Gandolfi, coordenadora do Núcleo de Toxicovigilância do CVS, a presença de metanol em bebidas alcoólicas é anormal e indica adulteração.

Em meio à suspeitas de intoxicação por metanol, governo de São Paulo fiscaliza comércios suspeitos de vender bebidas adulteradas • Divulgação/Governo de SP

Os primeiros sintomas após a ingestão podem incluir torpor, fraqueza e efeito alcoólico muito rápido. Em situações mais graves, o metanol pode causar confusão mental, náusea, vômito, dor abdominal, visão turva, danos neurológicos e até cegueira. Se não houver atendimento imediato, os efeitos podem ser irreversíveis. Quanto mais cedo o paciente receber o antídoto, menores são as chances de complicações.

A coordenadora reforça a importância de verificar sempre a procedência dos produtos, tanto em bares quanto em compras diretas. É fundamental que a bebida tenha rótulo, lacre e selo fiscal. “Melhor seria não beber, mas se for beber, que compre em locais confiáveis e observe se o produto está devidamente lacrado”, alertou.

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Casos confirmados e em investigação

Até a noite da segunda-feira (29), o estado havia confirmado seis casos de intoxicação por metanol e investigava outros dez. Entre as ocorrências em apuração, estão quatro jovens — dois homens e duas mulheres — que passaram mal após consumir gin comprado em uma adega na Cidade Dutra, Zona Sul da capital, em 1º de setembro. Um dos pacientes, Rafael dos Anjos Martins Silva, permanece internado em UTI há quase um mês.

Em meio à suspeitas de intoxicação por metanol, governo de São Paulo fiscaliza comércios suspeitos de vender bebidas adulteradas • Divulgação/Governo de SP

Segundo relato da família, ele inicialmente pensou que os sintomas fossem de ressaca, mas logo apresentou perda de visão e foi hospitalizado. O quadro, de acordo com os médicos, é irreversível. Outra vítima, Rhadarani Domingos, contou que ficou cega após consumir três caipirinhas de vodca em um bar no Jardim Paulista. Ela deixou a UTI, mas continua internada sem previsão de alta.

Mortes registradas

O governo estadual confirmou três óbitos relacionados à intoxicação:

  • Homem de 58 anos, de São Bernardo do Campo;
  • Homem de 54 anos, da capital;
  • Homem de 45 anos, com residência ainda não confirmada.

Outro caso, envolvendo um homem com histórico de alcoolismo, segue em investigação, enquanto uma morte foi descartada.

Como ocorreu a adulteração

Investigações apontam que falsificadores “batizavam” bebidas destiladas de marcas conhecidas, como gin e vodca, adicionando metanol. Até agora, não se sabe em qual etapa da produção ou distribuição ocorreu a fraude. Uma adega na Zona Sul e três bares da capital — localizados nos Jardins, na Mooca e na Zona Oeste — estão sob investigação. Durante uma operação de fiscalização, 117 garrafas de destilados sem rótulo foram apreendidas.

O que é o metanol

O metanol (CH₃OH) é um álcool simples, incolor, inflamável e altamente tóxico. Ele é utilizado na produção de biodiesel, solventes, tintas, plásticos e anticongelantes. Apesar de suas aplicações industriais legítimas, não pode ser comercializado para consumo humano. Pequenas quantidades já são suficientes para provocar intoxicação grave, com risco de convulsões, cegueira e morte.

Possível origem do produto usado nas adulterações

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) suspeita que o metanol utilizado para adulterar bebidas seja o mesmo que vinha sendo importado ilegalmente pelo crime organizado para adulterar combustíveis. Uma operação recente revelou que alguns postos vendiam combustíveis com até 90% de metanol, quando o limite permitido pela ANP é de apenas 0,5%. Com o fechamento de distribuidoras clandestinas, acredita-se que estoques da substância tenham sido repassados a falsificadores de bebidas.

Recomendações

O CVS orienta que bares e estabelecimentos comerciais redobrem os cuidados na compra de bebidas e que o consumidor adquira apenas produtos de fabricantes autorizados, verificando sempre o lacre, o selo fiscal e a originalidade da embalagem. Em caso de suspeita de intoxicação, a recomendação é buscar atendimento médico imediato.

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