O preparador de elenco Sergio Penna, é um ex-contratado da Globo que já trabalhou com grandes atores da emissora, como Rodrigo Santoro, Deborah Secco e Juliana Paes. Ele foi julgado nesta terça-feira (9) por importunação sexual contra suas alunas de cursos que executou entre 2013 e 2019. De acordo com o Ministério Público, Penna aproveitou de sua fama e posição de autoridade para abusar de suas vítimas.
Em janeiro, foi protocolado quatro denúncias contra o preparador. Penna teria colocado as mãos de pelo menos duas mulheres em suas partes íntimas e apertado as nádegas de outras duas, além de tentar beijar suas alunas.
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Segundo a advogada Luciana Terra, pelo menos 40 mulheres já fizeram denúncias contra Sergio Penna por todo país. Algumas eram menores de idade na época dos acontecimentos. “Ele é um assediador em série. Ele organiza workshops para jovens atrizes, muitas menores, prometendo carreira artística. Moças vulneráveis que não sabiam reconhecer aquilo como assédio. Durantes as aulas ele agarrava, passava a mão, fazia convites e elas tinham muito medo de denunciar”, disse a advogada.
Segundo denúncias do Ministério Público, o preparador se aproveitava da confusão mental das aulas, já que muitas delas ficavam na dúvida se aquele era o seu jeito normal de ser, não havendo maldade, ou se era mesmo uma forma de abuso sexual. Assim, em muitas ocasiões os atos libidinosos eram tidos como uma ação praticada “sem querer” ou sem cunho sexual.
“Essa é uma história muito dolorosa e em vários momentos fomos silenciadas, ainda mais por denunciar uma pessoa fluente. Quero que ele seja parado, que saia do mercado de trabalho, porque ele é uma ameaça para qualquer jovem atriz que busca crescer”, relata Ramayana, numa conversa por telefone com a Universa.
Das 11 mulheres que afirmaram ter sido vítimas de Sergio Penna, apenas quatro serão ouvidas na condição de vítimas, ao relatarem fatos acontecidos após 2018, quando foi sancionada a lei da importunação sexual. As demais com relatos de assédio anteriores a 2018 vão depor como testemunhas.
A importunação sexual é uma prática de ato libidinoso na presença de alguém, sem que essa pessoa tenha dado consentimento. A pena prevista para esse crime é de um a cinco anos de prisão.
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Júlia Corrêa e Ramayana Regis
Tanto Júlia como Ramayana, tinham chegado no Rio de Janeiro com um pouco mais de 20 anos para tentar a carreira de atriz, mas desistiram dos planos depois do que passaram com Penna. “Eu estava abrindo meus caminhos, mas depois do que aconteceu, todas as portas se fecharam”, relembra Ramayana. “Foi uma situação onde estávamos apenas eu e ele, e de qualquer maneira que eu tentasse sair, seria desconfortável pra mim. Qualquer tentativa de me impor, colocaria minha carreira em risco. Quem acreditaria em mim?”
“Fiquei semanas em estado de choque. Chorava toda noite, aquilo me consumiu. Até que chegou um momento que falei: ‘Não quero mais nada ligado à arte’. Eu nem podia ouvir falar em atuar em teatro. Tinha desistido de vez da minha carreira como atriz”.
Ramayana ficou quase três anos afastada dos teatros e hoje, aos 33 anos, se apresenta com a companhia Nós do Morro e também atua como uma produtora musical.
Júlia foi a primeira a denunciar Sergio em 2020. Eles trabalharam juntos um pouco mais de um ano. Ela não só diz ter sido vítima de violência sexual como afirma ter presenciado o mesmo acontecendo com outras atrizes iniciantes. “Ele dizia que tínhamos que deixar o toque acontecer. Vi muita coisa. Selinhos, tapa na bunda. Sentíamos culpa se não víssemos aquilo como algo natural. Ele se aproveitava disso. Também vi garotas com as mãos nas partes íntimas dele. Naquele ponto já não sabia se era algo consentido”.
“É muito difícil fazer esse tipo de denúncia. Sabia que estava colocando em risco minha carreira, então resolvi desistir. Não faz sentido viver num ambiente com abuso psicológico e sexual”, afirmou Júlia, que hoje tem 29 anos e trabalha com marketing.
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O escritório Francisco Neto, que faz a defesa de Sergio Penna foi procurado, mas não houve respostas até a publicação desta matéria.