Com uma parceria famosa entre The Weeknd e Drake, teria acontecido o feat dos sonhos, com grande potencial de subir nas paradas globais. Acontece que, para a indústria musical, esse hit é um verdadeiro pesadelo, porque nenhum dos artistas realmente participou da música “Heart On My Sleeve”, postada na internet por um usuário identificado apenas como Ghostwriter. A faixa foi tocada mais de 10 milhões de vezes no TikTok antes de sumir da plataforma e foi feita com inteligência artificial.

A tecnologia conseguiu simular as vozes dos dois artistas a partir de padrões identificados em outros registros vocais deles disponíveis on-line. Mesmo não se tratando de uma música com melodia perfeita, baixa qualidade e vocais com falhas, ela conseguiu ganhar o coração do público, se tornando o primeiro hit viral gerado por algoritmo, o que incomodou a Universal Music, gravadora de Weeknd.




A pedido da Universal, a versão original de “Heart on my sleeve” foi retirada dos serviços de música. Na mesma época, a empresa mandou cartas para plataformas como Spotify e Apple Music, solicitando que faixas do seu catálogo não sejam usadas pra treinar ferramentas de inteligência artificial.

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As leis atuais na maioria dos países permitem que gravadoras façam isso, segundo o advogado Luiz Fernando Plastino, especialista em propriedade intelectual, área do Direito que protege o reconhecimento de autoria. “Todo uso que você faz de uma obra precisa ser autorizado. Isso é chamado de direito patrimonial do autor: o direito de um autor — ou do representante do autor, no caso, a gravadora — de controlar a utilização das obras dele”, explica.

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Ariana Grande e Zé Felipe

Com diversas ferramentas disponíveis on-line, é possível reproduzir a técnica de clonagem de voz que deu origem ao hit “Heart on my sleeve”. Recentemente, internautas compartilharam inúmeras montagens divertidas com vozes de artistas em músicas que não são deles. Temos por exemplo, Michael Jackson cantando “Evidências”, Rihanna cantando hits de Beyoncé e muitas homenagens a artistas brasileiros que já morreram. No TikTok, existe um vídeo onde Marília Mendonça canta com Ana Castela o hit “Nosso quadro” e tem mais de 1,3 milhão de visualizações na plataforma.

O estudante João Victor Xavier, de Santos, litoral de São Paulo, é um dos muitos fãs com perfis no TikTok dedicados à Ariana Grande e usando um algoritmo do aplicativo Discord, ele conseguiu fazer a artista cantar um rap de desabafo do sertanejo Zé Felipe, que bombou na internet. O vídeo chegou a quase 700 mil visualizações.

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Direitos autorais

E se uma música criada por algoritmo faz sucesso, com quem fica a arrecadação de direitos autorais? Alguns países, incluindo o Brasil, atribuem direitos autorais apenas para obras que envolvem um esforço de criatividade. Um esforço humano. Nesse caso, o que é feito por inteligência artificial fica sob domínio público.

“Mas, em outros países, outras saídas estão sendo discutidas”, afirma o especialista em propriedade intelectual. “A China teve duas decisões importantes nesse sentido: em uma delas, um tipo de direito similar ao autoral foi atribuído à pessoa que operou o algoritmo e dirigiu a criação através dele; em outra, o direito foi reconhecido para a empresa que criou a ferramenta de inteligência artificial.”

Criações

Além disso, artistas já pensam em explorar as possibilidades criativas desse tipo de tecnologia. O produtor Mulú, por exemplo, fez uma sugestão: “Usar a inteligência artificial para criar timbres. Um som de harpa que soe como um berimbau. Isso eu acho que vai ser legal, e vai desbloquear novas possibilidades, principalmente na música eletrônica”, declarou.

O Google está testando a ferramenta Music LM, que é capaz de gerar músicas a partir de descrições em texto. É possível fazer desde pedidos diretos e simples, como “um rap dos anos 90 com sample de piano de brinquedo”, até requisições mais abstratas, como “um som relaxante e inspirador, que seja como uma xícara de café musical pra te manter produtivo no trabalho”.

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