A ex-porta-bandeira da Portela, Vilma Nascimento sofreu racismo em aeroporto logo depois de receber uma homenagem na Câmara dos Deputados, em celebração ao Dia da Consciência Negra.
Vilma foi acusada de furto, em uma loja no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. O caso de racismo foi denunciado pela filha da sambista, no Instagram. No vídeo, Danielle Nascimento mostrou a mãe sendo obrigada a abrir a bolsa diante de uma segurança, para provar que não furtou nada.
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Ela estava à espera do voo na companhia da filha, quando decidiu comprar um refrigerante na loja Dufry Brasil. Olhou alguns perfumes, saiu da loja sem comprar e, momentos depois, retornou para, então, comprar a bebida. No entanto, ela foi abordada por uma segurança, que falou que precisava ver a bolsa dela em um lugar reservado.
Danielle já tinha comprado chocolates, e contou que também foi abordada, mas que a fiscal queria que Vilma abrisse a bolsa. Vilma chegou a dizer que abriria a bolsa na presença da polícia, mas a filha começou a gravar e diz que insistiu que ela abrisse porque o horário do voo estava chegando.
No vídeo, é possível ouvir o diálogo de Danielle com a mãe, perguntando se a mãe tinha esquecido de pagar alguma coisa. E Vilma respondeu. “Eu? Não comprei nada. Como é que vou pagar?”
Em uma tentativa de apaziguar a situação, a filha disse: “Mãe, não fala nada. Só faz o que ela está pedindo e depois a gente vê. Tira tudo da bolsa, mãe”. Um outro vídeo mostra o momento que a idosa cata alguns de seus pertences do chão. Danielle contou que a mãe ficou surpresa, revoltada e muito constrangida.
Nada foi encontrado
Nada foi encontrado na bolsa de Vilma, e segundo a família, nenhum outro passageiro foi revistado. A família também afirmou que eles não pediram desculpas pela abordagem sem sentido, e citam o racismo como o principal fator.
“Estamos tristes e traumatizadas até agora. Foi um absurdo!! Cheguei a perguntar se ela estava fazendo isso conosco por causa da nossa cor”, escreveu a filha nas redes sociais. O neto contou que o emocional de Vilma está abalado desde então, e que a glicose dela está alta por conta disso. “Por causa do emocional desregulou. Quando ela fala disso, ela chora, super abalada.”
Portela se pronunciou
A escola de samba da Portela postou uma nota, repudiando a abordagem à Vilma. “Portela repudia veementemente o preconceito sofrido por Vilma Nascimento, o Cisne da Passarela, no aeroporto de Brasília, em companhia de sua filha Danielle Nascimento. Vilma é um dos ícones da Portela e do Carnaval. É uma sambista de destaque, que traz na pele a marca de nossa ancestralidade. O constrangimento, demonstrado nas imagens divulgadas, é sentido por todos que temos no samba parte importante de nossa identidade, e que enxergamos em Vilma uma de nossas grandes referências”.
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Segundo Dufry, fiscal foi afastada
Em nota publicada nas redes sociais, a Dufry Brasil pediu desculpas e disse que a fiscal foi afastada. A empresa disse que a abordagem foi “lamentável” e estava “absolutamente fora do nosso padrão”. A loja ainda diz que está reforçando todos os procedimentos internos e treinamentos dos funcionários para evitar que esse tipo de situação se repita.
“Este tipo de abordagem não reflete as políticas e valores da empresa. A Dufry está reforçando todos os seus procedimentos internos e treinamentos, em linha com as suas políticas, para impedir que situações assim se repitam” disse a loja, em nota no Instagram.
Homenagem na câmara dos Deputados
Vilma, conhecida como Cisne da Passarela (por sua dança suave e elegante) foi a maior porta-bandeira da história da Portela, tendo estreado com apenas 13 anos. No Dia da Consciência Negra, segunda-feira (20), ela foi homenageada na Câmara dos Deputados.
A baluarte abriu a exposição “O pensamento negro no Brasil”, que têm um painel totalmente dedicado a ela. A trajetória de Vilma foi marcada por vitórias: foi Estandarte de Ouro três vezes seguidas pela Portela (nos anos de 1977 a 1979), e uma pela Tradição, em 1989. Em 2014, foi homenageada pela Porto da Pedra como uma das Majestades do Samba, tema do desfile do ano.
A porta-bandeira parou de desfilar em 1982, mas serviu de exemplo e inspiração para a família. A filha Danielle é porta-bandeira da União da Ilha do Governador e a neta Camyla, segunda porta-bandeira da Portela. Os passos já começaram também a ser seguidos pela bisneta Clarice, de 10 anos. A menina, estreou como porta-bandeira mirim da Mangueira, em 2022.
O que você achou desse relato de racismo contra a ex-porta-bandeira da Portela?