Há 50 anos atrás a cidade de São Paulo viveu uma das maiores tragédias já registradas no Brasil: o incêndio do Edifício Joelma. O local ficava no Vale Anhangabaú, no Centro da capital paulista.
Naquele dia, cerca de 750 pessoas estavam no prédio, a tragédia acabou deixando 187 mortos e mais de 300 pessoas feridas. Embora o país nunca tenha homenageado esses mortos ou transformar essa tragédia em um memorial, as marcas e lembranças do incêndio permanecem vivas em muitas pessoas.
Esse incêndio continua sendo o segundo pior ocorrido em arranha-céu do mundo, pelo número de vítimas fatais. Ficando apenas atrás da tragédia envolvendo as Torres Gêmeas, do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001.
Há exatos 50 anos, o Edifício Joelma ardia em chamas, e até hoje podemos perceber marcas além do fogo referentes à tragédia. Há relatos de casos sobrenaturais envolvendo o local. E até mesmo no cemitério onde as vítimas foram sepultadas. Gritos, pedidos de socorro e gemidos são alguns dos estranhos barulhos ouvidos por testemunhas vindos de uma vala comum com 13 corpos, vítimas da tragédia.
Embora fosse um dos maiores prédios do centro de São Paulo, onde diversos trabalhadores frequentavam todos os dias, o local não tinha nenhum suporte em caso de incêndio. Por exemplo, não haviam saídas de emergência ou alarmes de incêndio.
Construção e inauguração do Edifício Joelma
A construtora Joelma S/A foi responsável por iniciar as obras, em 1969. Sua inauguração somente ocorreu em 1972. Segundo relatos da própria empresa, o prédio estava equipado com o que se tinha de melhor de tecnologia para prevenção de incêndios na época.
Eram 25 andares. Registros e documentações eram armazenadas no térreo e no subsolo. Nos primeiros 10 andares, as pessoas costumavam estacionar seus carros. Finalmente, do 11º ao 25º, ficavam os trabalhadores e executivos, nos escritórios.
Incêndio
O incêndio aconteceu em uma sexta-feira, por volta das 8h30, após um curto-circuito elétrico em um ar-condicionado no 12º andar. A fachada, sem proteção contra as chamas, também foi tomada. Os escritórios já estavam cheios quando o fogo começou.
O fogo durou mais de três horas e destruiu 14 pavimentos. De acordo com os registros, os botijões de gás nas copas das empresas explodiram e lançaram blocos de paredes.
Os helicópteros que tentavam fazer o resgate não conseguiam pousar no topo, que era coberto com telhas de amianto e não havia escadas de incêndio ou heliponto na cobertura. Mais de 60 pessoas que fugiram para o terraço morreram carbonizadas. Outras caíram, outras se atiraram do prédio na tentativa de viver.
Na época, o Jornal Nacional mostrou as imagens do incêndio e da ação dos bombeiros. Reynaldo Cabrera, o cinegrafista, filmou a queda de um homem do último andar do prédio.
Desespero
Um funcionário ainda tentou usar um extintor portátil, mas se deparou com um cenário desesperador: muito calor (cerca de 700 graus) e muita fumaça, já com o foco se alastrando pelo forro.
A notícia do incêndio correu rapidamente pelos corredores do local, fazendo as quase 800 pessoas que estavam no Edifício Joelma entenderem que não se tratava de um simples problema. O corpo de bombeiros demorou cerca de 20 minutos para chegar no prédio. Infelizmente, por conta dessa demora, o fogo atingiu totalmente os andares superiores.
Os que estavam no 11º andar tiveram tempo de escapar das chamas e fumaça, porém, os que estavam nos andares acima encontraram diversos obstáculos para sair, incluindo as escadas, cobertas pelo fogo. Além da multidão que se formava nos corredores, os vidros se quebravam, e o oxigênio acabava.
Os 13
O que muitos não sabem, por falta de registros audiovisuais, foi que 13 pessoas conseguiram chegar até um dos elevadores que ainda funcionava em meio às chamas, e conseguiram usá-lo. A maioria deles, já estava quase entrando em colapso, por estarem desidratadas, e por terem inalado muita fumaça.
A esperança dos 13 era de conseguir chegar aos andares de baixo, onde o fogo não estaria tão forte, porém, o elevador, embora não tenha desabado, ficou pendurado.
Quando perceberam que não tinham mais saída, e que provavelmente ninguém conseguiria ajudá-los pela força das chamas, decidiram abraçar como último gesto de suas vidas. Seus corpos foram achados após os bombeiros controlarem o fogo. De acordo com relatos de quem trabalhou na operação na época, a cena em questão foi muito forte, pois os corpos estavam irreconhecíveis, muitos deles haviam se fundido a parede de metal.
Os 13, por fim, foram enterrados lado a lado, no cemitério de São Pedro, na época recém-inaugurado. As histórias sobrenaturais envolvendo o Edifício Joelma começaram logo depois, levantando histórias de até mesmo antes do prédio ser construído.
As 13 almas
Atualmente, muitos acreditam que os 13 ainda habitam o local e o tornam mal-assombrado. São chamados de “as 13 almas”. Em entrevista à TV em 2005, o até então zelador do local, Luiz Nunez, relatou que em um momento de desespero em meio aos barulhos, decidiu pegar seu regador e derramar o que tinha dentro em cima das 13 sepulturas.
De acordo com ele, na mesma entrevista, a ação deu certo e acalmou a situação. Após o relato, começou o costume de deixar um copo d’água nos túmulos das vítimas.
Como foi feito o trabalho de resgate aos sobreviventes?
As escadas dos bombeiros, só chegaram até o 16º andar, deixando os andares superiores para os helicópteros, que mal podiam chegar perto com o risco de explosão. Segundo relatos e vídeos da época, cerca de quarenta pessoas preferiram pular das janelas do que enfrentar o fogo, nenhum deles sobreviveu.
Durante o momento do incêndio, muitas pessoas começavam a pular, simplesmente por conta do choque ou da impossibilidade de permanecer naquele calor ou de sair. Diante disso, muitos civis fizeram cartazes solicitando para as pessoas que elas não se jogassem e tivessem calma, oferecendo um apoio a mais.
Crime do poço
Agora vamos falar um pouco sobre as histórias assombradas que envolvem o antigo Edifício Joelma. Elas foram resgatadas depois dos relatos sobrenaturais que surgiram.
No mesmo terreno em que o prédio viria a ser construído, havia uma casa de propriedade de Paulo Ferreira de Camargo. A residência, apesar de simples, ficava em uma boa localização de São Paulo. Além de dividir a vizinhança com o Theatro Municipal, um dos cartões postais da cidade.
Parecia, realmente, ser um ótimo lugar para se morar e construir uma vida. Porém, um ato de crueldade viria a marcar o terreno por anos. Camargo morava com sua mãe, Benedita Camargo, e suas duas irmãs, Maria Antonieta e Cordélia. O jovem, que tinha se formado há pouco tempo em química pela USP, despertava estranheza em seus vizinhos por conta de seus comportamentos.
Tudo piorou em novembro de 1948. Quando de repente, ele informou para os amigos, vizinhos e familiares que, em uma viagem para o Paraná, o carro que transportava sua mãe e suas irmãs havia caído de um penhasco e que as três haviam morrido.
No entanto, em visita, seu irmão Carlos começou a desconfiar da história. Pois Paulo contava detalhes da histórias sempre com pontos diferentes. Além disso, não havia informações reais e concretas sobre o acidente, além de não ter corpos para comprovar. Outro ponto que chamou à atenção foi o comportamento do homem, que parecia não se importar com as mortes.
História não era real
Estavam certos, a história dele não era real. Paulo Camargo estava vivendo um embate com sua mãe e irmãs. Por conta do seu relacionamento com a enfermeira Isaltina dos Amaros, que conheceu em um hospital quando acompanhava as três em exames decorrentes.
Benedita, não aprovava o romance dos dois, pois havia descoberto que Isaltina não era mais virgem. Embora a mãe e as irmãs não aprovassem, o rapaz continuou com a moça. Foi a partir daí que seu comportamento começou a mudar.
Além de parecer deprimido e ainda mais retraído, Paulo chamava à atenção de seus colegas professores da faculdade com perguntas não muito convencionais, como quais materiais eram mais eficientes para decompor um corpo.
Logo após isso, Camargo chamou dois funcionários e começou a construção do poço. Sua mãe achou estranho e não entendeu o motivo pelo qual o filho estava construindo aquilo. Quando o poço foi finalmente finalizado, Paulo Camargo atirou na mãe e nas irmãs a sangue frio, as matando.
Vizinhos não ouviram nada
Os vizinhos não conseguiram ouvir os disparos, pois, na faculdade, o homem havia feito experimentos para abafar o som dos tiros. Após o crime, ele envolveu as três em mortalhas pretas. Colocando capuzes em suas cabeças e as jogando logo em seguida no poço.
Dezenove dias depois, a polícia foi até a casa do rapaz para investigação e ouviu piadas como: “Vocês, cavalheiros, acreditam que sou louco, que sou perturbado o suficiente para ter matado minha mãe e minhas irmãs e enterrado no meu quintal? Minha casa é toda sua”.
Sabendo o desfecho e que provavelmente iria ser descoberto naquele dia, Paulo não esperou ser desmascarado. O homem se trancou no banheiro e, com a arma que tirou a vida da mãe e das irmãs, atirou no próprio peito.
Edifício Praça da Bandeira
O zelador do Cemitério São Pedro, Luiz Nunes, não foi o único a ter experiências sobrenaturais em decorrência de casos envolvendo o terreno. Em 2004, um monge budista foi chamado pela equipe do prefeito, que alegou que só entraria no Edifício Praça da Bandeira, se o local fosse purificado.
Após a purificação, o monge relatou em entrevista à TV Globo que não poderia fazer nada para apaziguar os fantasmas que ali habitavam. De acordo com testemunhas que trabalham no local, os acontecimentos sobrenaturais mais comuns são os sussurros e gritos de dor que perseguem os funcionários e os faróis dos carros que piscam freneticamente no estacionamento do prédio.
Responsabilização
Pelo lado criminal, cinco pessoas foram responsabilizadas pelo incêndio no Joelma. A investigação começou em julho de 1974, e teve seus resultados divulgados apenas em 1975. Confira as penas:
- três anos de prisão para Kiril Petrov, gerente-administrativo da Crefisul;
- dois anos para Walfrid Georg, proprietário da Termoclima;
- dois anos para o eletricista Gilberto Araújo Nepomuceno, dois para os eletricistas da Crefisul, Sebastião da Silva Filho e Alvino Fernandes Martins.
Homenagem aos bombeiros
A Câmara Municipal de São Paulo entrega nesta quinta-feira (1) à tarde o Prêmio Coronel Hélio Barbosa Caldas. Em memória às vítimas e os sobreviventes do incêndio.
O evento premiará 11 bombeiros que trabalharam combatendo as chamas, e que atualmente, têm entre 70 e 90 anos. Veja abaixo a lista dos profissionais homenageados:
- Lisias Campos Vieira, 72 anos;
- Eduardo Boanerges Soares Barbosa, 77 anos;
- Augusto Carlos Cassaniga, 83 anos;
- Rufino Rodrigues de Oliveira, 92 anos;
- Luiz Alves Grangeiro, 78 anos;
- Francisco Assis dos Santos, 77 anos;
- Pedro Ortiz Caceres, 74 anos;
- Roberto Silva, 81 anos;
- João Simão de Souza, 73 anos;
- Franclin de Jesus Ferreira, 75 anos;
- Celio Moterani, 76 anos.
O Edifício Joelma, que hoje se tornou Edifício Praça da Bandeira, é marcado por uma história conturbada que envolve um terrível incêndio e ao menos um crime chocante. Por conta disso, é um dos mais curiosos e assustadores locais no Brasil, sendo considerado o prédio mais mal-assombrado do país.
Inclusive, a história acabou virando filme, em 1979. Dirigido por Clery Cunha, “Joelma, 23º andar” é baseado em escritos de Chico Xavier. Que teria cartas psicografadas de uma das vítimas.
Você acredita que o prédio seja assombrado? Conhecia a história do Edifício Joelma?