Em 1939, Hollywood foi agraciada com o lançamento de um filme que ficaria marcado para sempre como um clássico: O Mágico de Oz. O longa foi dirigido por Victor Flaming, e se tornou não apenas um dos maiores sucessos do cinema, mas também, uma das maiores apresentações em Technicolor (coloração de filmes em preto e branco).

Cena de 'O Mágico de Oz' (Foto: divulgação)

Na trama, a jovem Dorothy vive uma vida bastante comum no Kansas, até que um tornado atinge a região e a transporta para um lugar mágico chamado Oz. Lá, ela tenta encontrar o poderoso bruxo que poderá levá-la de volta para sua casa — acompanhada por um leão covarde, um espantalho sem autoestima por não ter um cérebro e um homem de lata que chora por não ter coração.

Intoxicação

Um dos personagens mais emblemáticos não apenas do filme, mas de toda a cultura pop, é o Homem de Lata, interpretado por Jack Haley. Porém, a princípio, o papel não seria dele. O primeiro foi Buddy Ebsen, que precisou ser substituído em meio às gravações.

A razão para a substituição, por sua vez, é uma das controvérsias em torno da produção. Ebsen foi intoxicado pela maquiagem que usava na caracterização, feita de puro pó de alumínio.

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Apenas nove dias após o início das filmagens, segundo a Revista Time, ele precisou ser hospitalizado, e como não melhorou rápido o suficiente, foi substituído. Com Jack Haley, a maquiagem era uma pasta também feita com alumínio, que, inclusive, lhe causou uma infecção no olho, mas nada que não pudesse ser tratado.

O Homem de Lata - Foto: MGM

O Homem de Lata – Foto: MGM

Queimadura

Outra pessoa que sofreu com a maquiagem da produção foi a atriz Margaret Hamilton, que interpretou a Bruxa Má do Oeste. Ela sofreu queimaduras de terceiro grau quando uma explosão cenográfica atingiu seu rosto, derretendo a maquiagem que continha cobre. Para remover a maquiagem derretida, foi preciso usar um forte solvente, que causou ainda mais dores à atriz. A dublê escalada também se queimou durante as gravações.

Bruxa Má do Oeste - Foto: MGM

Bruxa Má do Oeste – Foto: MGM

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“Maior humilhação da carreira”

Buddy Ebsen foi escalado originalmente para interpretar o espantalho, e Ray Bolger, o homem de lata. Bolger insistiu que queria ser o espantalho, e trocou de papel com Ebsen. Porém como já dito anteriormente, Buddy teve uma reação alérgica à maquiagem.

Com problemas respiratórios, o ator teve que ser levado às pressas ao hospital. Enquanto estava internado, soube que havia sido substituído por Jack Haley. O ator disse que esta foi a maior humilhação de sua carreira. Ebsen também sofreu cortes e ferimentos com a roupa de Homem de Lata.

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Buddy Ebsen fazendo teste de figurino e maquiagem para o Homem de Lata - Foto: Reprodução

Buddy Ebsen fazendo teste de figurino e maquiagem para o Homem de Lata – Foto: Reprodução

Totó

Nem mesmo o cachorrinho da Dorothy escapou de se ferir durante as gravações do filme. Na época, quem deu vida ao Totó foi uma fêmea da raça Cairn terrier chamada Terry.

Ao longo das filmagens, um ator que fazia um dos soldados da Bruxa Má do Oeste acidentalmente pulou em cima do cachorrinho de Dorothy, levando o animal a torcer o pé. Ela não tinha dublê – o que é comumente usado hoje – então o as filmagens foram paralisadas. Felizmente, apenas algumas semanas depois, Terry retornou às gravações, já recuperada. Ela ainda fez muitos filmes até morrer, em 1945.

A cadelinha que fez Totó em O Mágico de Oz ganhou mais do que os outros atores – Foto: Reprodução

A cadelinha que fez Totó em O Mágico de Oz ganhou mais do que os outros atores – Foto: Reprodução/MGM

Dorothy mais barata

Judy Garland não foi a primeira opção da MGM para interpretar Dorothy, pois o livro de L. Frank Baum deixava bem claro que a menina tinha apenas 10 anos. Por este motivo, a produtora cogitou escalar Shirley Temple para o papel, uma estrela mirim da época (que parecia muito a Maísa quando criança). Mas o cachê da garotinha era alto e ela não sabia cantar. Deanna Durbin também foi sondada, mas era contratada do estúdio concorrente, a Universal, então Judy ganhou o papel principal.

Abusos

Sidney Luft, que foi casado com a atriz entre 1952 e 1965, narrou em seu livro de memórias, Judy and I: My Life With Judy Garland, lançado somente em 2017, que ela teria sofrido abusos dos atores que interpretavam os munchkins. Segundo o livro, “eles achavam que escapariam de qualquer acusação e poderiam fugir pelo fato de serem pequenos. Fizeram a vida de Judy um inferno no set, colocando as mãos sob seu vestido. Os homens tinham 40 anos ou mais”.

Em outro momento, o produtor Pandro Berman revelou que, certa vez, Fleming puxou Garland de lado e lhe deu um tapa no rosto, apenas para fazê-la parar de rir durante os takes, já que ela estava tendo uma crise de riso.

Sidney Luft e Judy Garland - Foto: Reprodução

Sidney Luft e Judy Garland – Foto: Reprodução

A bruxa que não queria ser feia

A atriz Gale Sondergaard foi chamada para interpretar a Bruxa Má do Oeste, mas ela desistiu da personagem porque não queria aparecer feia no filme. Posteriormente, os produtores também a acharam “sexy demais para o papel”.

Gale Sondergaard fazendo teste de figurino da bruxa - Foto: Reprodução

Gale Sondergaard fazendo teste de figurino da bruxa – Foto: Reprodução

Foi aí que Margaret Hamilton foi chamada para papel e quando ela ligou para o agente para saber qual o papel que estava sendo cogitado, o agente lhe respondeu: “Para o da bruxa, qual mais?”.

Margaret Hamilton como a Bruxa - Foto: X

Margaret Hamilton como a Bruxa – Foto: X

O curioso é que em O Mágico de Oz ela parecida ser bem velha, mas tinha apenas 36 anos, enquanto que Billie Burke, a Glinda, a Bruxa Boa do Leste, era bonita e jovem, mas estava no auge de seus 54 anos. Algo muito diferente para as mulheres desta idade em 1939.

Billie Burke, a Glinda - Foto: Reprodução/MGM

Billie Burke, a Glinda – Foto: Reprodução/MGM

Figurino doloroso – Dorothy

Como dito anteriormente, Dorothy tem apenas 10 anos, então Judy Garland foi obrigada a usar um espartilho muito apertado, que tinha como intenção esconder os seios e os quadris da adolescente de 16 anos.

Dizem até que isso se tornou um trauma para a atriz acabou que passou a sofrer com diversos distúrbios envolvendo seu corpo durante anos. No fim da vida, ela se viciou em remédios para emagrecer, se afundou em dívidas, tentou o suicídio diversas vezes e morreu vítima de overdose em 1969, aos 47 anos.

Judy Garland como Dorothy - Foto: Reprodução

Judy Garland como Dorothy – Foto: Reprodução/MGM

Figurino doloroso – Leão Covarde

A roupa do Leão Covarde, interpretado por Bert Lahr, pesava mais de 45 quilos, era feita com partes de leão de verdade e era muito quente. A tecnologia Technicolor exigia mais luz do que o normal, então os sets de filmagem chegavam a bater 40° C. Nesta temperatura, o ator suava o tempo inteiro durante as filmagens e saía ensopado no final do dia.

Na época, duas pessoas eram responsáveis por passar a noite toda lavando o traje a seco para ser usado no dia seguinte. E acredite, mesmo assim, o cheiro era bem desagradável. A prótese que o Leão usava o impossibilitava de comer alimentos sólidos porque era feita em algumas partes com papel marrom e poderia se desfazer. Por este motivo, ele só podia se alimentar de líquidos como sopas e milk-shakes durante a maior parte das filmagens.

Bert Lahr como o Leão, em O Mágico De Oz - Foto: Reprodução

Bert Lahr como o Leão, em O Mágico De Oz – Foto: Reprodução/MGM

Figurino doloroso – Espantalho

Já a maquiagem do Espantalho era feita com uma prótese de borracha que imitava um tecido. No filme é possível até identificar as linhas no rosto do personagem. Porém esta máscara deixava o rosto de Ray Bolger inteiro marcado quando ele tirava o figurino. Ah, e levou mais de um ano para que as linhas desaparecessem do seu rosto! Isto lhe custou muitos trabalhos e o ator só conseguiu retornar ao cinema no filme Sunny, feito em 1941.

Ray Bolger como o Espantalho, em O Mágico de Oz - Foto: Reprodução

Ray Bolger como o Espantalho, em O Mágico de Oz – Foto: Reprodução/MGM

Cenas cortadas

A primeira ideia era que a Bruxa Má do Oeste fosse bem má, porém, muitas cenas foram cortadas porque ficou inapropriada para exibir para o público. Estava aterrorizante demais.

Após a estreia, os produtores do filme decidiram cortar a música The Jitterbug. Não há registros oficiais desta canção, mas alguns fragmentos captados com uma câmera caseira são a prova que ela realmente existiu. Quem assistiu essas imagens garante que ela realmente não se encaixava com o filme.

Aliás, a música principal do filme, Over the Rainbow quase foi cortada na edição. A MGM achou que a sequência do Kansas estava muito longa, e podia ser cansativa. Felizmente, ela acabou ficando, para a alegria dos fãs. Dorothy cantava a música novamente, enquanto estava presa no castelo da bruxa, mas a cena foi cortada.

Sapatinhos da Dorothy

Vários foram os sapatos de Dorothy testados para o filme. Inicialmente eles eram prateados, mas um dos produtores, Louis B. Mayer, achou que vermelho rubi ficava melhor no Technicolor. A atriz Debbie Reynolds possuía um dos pares não usados, e os verdadeiros estão no museu Smithsonian. O tapete em frente aos sapatos precisa ser trocado várias vezes ao ano, pois fica gasto devido à popularidade do item exposto.

Sapatos da Dorothy - Foto: Reprodução/MGM

Sapatos da Dorothy – Foto: Reprodução/MGM

Amianto e acidentes

A neve usada no filme era, na verdade, amianto, material de construção extremamente tóxico.

A neve do filme era amianto - Foto: Reprodução/MGM

A neve do filme era amianto – Foto: Reprodução/MGM

Vários figurantes que interpretavam os macacos voadores alados também se feriram nas filmagens. Eles eram suspensos por cordas de piano, e derrubados no chão bruscamente, à medida que eram abatidos em cena.

Macacos voadores alados - Foto: Reprodução/MGM

Macacos voadores alados – Foto: Reprodução/MGM

Bastidores de Hollywood

Aos 13 anos, Garland assinou contrato com a produtora e distribuidora de filmes MGM, que foi responsável por tornar o sonho da jovem atriz e cantora em um pesadelo. Obcecados com o peso da adolescente, seus agentes monitoravam e reprovavam o que Garland comia. Nos bastidores, a artista viva em constante estado de fome. A preocupação com sua imagem física perturbaria Garland para o resto de sua vida.

Aos 17 anos, quando escalada para ser Dorothy Gale, a atriz chegava trabalhar 18 horas por dia, seis dias da semana. Para aguentar a rotina, o estúdio lhe dava anfetaminas, hábito que se estendeu por toda a carreira. Segundo o crítico de cinema Roger Ebert, seus produtores a manipulavam com os remédios. “Se Garland tinha problemas, ou você acreditava que ela poderia ter, ‘lhe dê comprimidos’. Acelere-a e desacelere. Opere-a como um relógio”, disse.

Além disso, como já citado, a jovem atriz era constantemente assediada nos estúdios, inclusive pelo chefe e cofundador da MGM, Louis B. Mayer, que tocou seu seio esquerdo com a desculpa de apontar para seu coração, de onde sua música saia. “Eu sempre pensava que tinha sorte de não cantar com outra parte da minha anatomia”, disse Garland em um memorial.

Judy Garland - Foto: Reprodução/ SHUTTERSTOCK

Judy Garland – Foto: Reprodução/ SHUTTERSTOCK

Truques

Os famosos cavalos coloridos da cidade das esmeraldas foram pintados com gelatina em pó. Assim, as cenas tinham que ser gravadas rapidamente, porque os animais lambiam e tiravam o produto. Nas primeiras cenas gravadas com o caminho dos tijolos amarelos, eles ficaram verdes no processo de Technicolor, que teve que ser reajustado.

Cavalos pintados com gelatina - Foto: Reprodução/MGM

Cavalos pintados com gelatina – Foto: Reprodução/MGM

O Mágico de Oz da Disney?

Walt Disney pretendia fazer uma versão de O Mágico de Oz, assim que acabasse Branca de Neve e os Sete Anões (1937), mas a MGM chegou a um acordo com o diretor, que desistiu do projeto. Adriana Caselotti, a dubladora original da Branca de Neve, dublou uma fala para Oz, fazendo a voz da Julieta, uma personagem secundária, durante uma canção.

O Mágico de Oz - Foto: MGM

O Mágico de Oz – Foto: MGM

Coincidência?

Para dar um aspecto decadente ao mágico (interpretado por Frank Morgan), o departamento de figurinos foi até um brechó e comprou todos os smokings surrados que estavam à venda. Victor Fleming acabou escolhendo um dos selecionados, sem nem pensar muito.

Um dia, no intervalo de gravação, Morgan percebeu que a roupa tinha uma etiqueta, dizendo que o casaco pertencia a L. Frank Baum, o autor do livro O Mágico de Oz. A equipe entrou em contato com o alfaiate que fez o traje, e ele confirmou a procedência. Ao término das filmagens, a roupa foi doada à viúva do autor.

Frank Morgan e o casaco de L. Frank Baum - Foto: MGM

Frank Morgan e o casaco de L. Frank Baum – Foto: MGM

Munchkins

A MGM contratou inúmeros anões para interpretar os Munchkins. Muitos deles eram pessoas sem nenhuma experiência no cinema, e alguns tinham uma origem bem duvidosa. Eles constantemente se envolviam em brigas e criavam confusões, e como já dito anteriormente, alguns chegaram a passar as mãos em Judy Garland.

Entre os Munchkins contratados estava o grupo musical The Singer Midgets, um grupo de mais de 20 anões cantores europeus. Leo Singer, o líder do grupo, anos mais tarde afirmou que, financeiramente, o contrato foi um fracasso e que o grupo aceitou a proposta devido a maioria de seus integrantes ser de judeus, e viram no filme uma forma de salvarem suas vidas fugindo da Europa, durante a Segunda Guerra Mundial.

Mais tarde descobriu-se que pessoas pequenas também haviam sido exterminadas pelos nazistas. Nenhum integrante do grupo voltou à Europa após as filmagens. Muitos do The Singer Midgets nem mesmo falavam inglês. Um Munchkin ganhava 25 dólares por semana de cachê. Terry, o cão ator que interpretou Totó, 150.

The Singer Midgets - Foto: Reprodução

The Singer Midgets – Foto: Reprodução

Dublês

Judy Garland teve duas dublês no filme. Suas substitutas foram as atrizes Bobie Koshay e Caren Marsh Doll. Caren Marsh foi a substituta de Garland, nas cenas de dança. Aos 105 anos, Caren Marsh Doll é uma das últimas integrantes do elenco ainda vivas.

Bobie Koshay em O Mágico de Oz - Foto: MGM

Bobie Koshay em O Mágico de Oz – Foto: MGM

Judy Garland e Caren Marsh Doll - Foto: Reprodução/X

Judy Garland e Caren Marsh Doll – Foto: Reprodução/X

Fracasso de bilheteria

O filme foi um fracasso de bilheteria em sua estreia. Somente anos mais tarde é que se tornou um sucesso. O Brasil foi um dos poucos países onde o filme foi bem sucedido nas bilheterias, em sua exibição inicial. Em 1956, porém, quando foi exibido pela primeira vez na televisão, o filme foi visto por mais de 44 milhões de pessoas.

Lenda urbana com Pink Floyd

A grande lenda urbana que envolve O Mágico de Oz está relacionada ao álbum Dark Side Of The Moon, da banda Pink Floyd. Os adeptos de conspirações afirmam que se reproduzirmos o disco simultaneamente ao filme, as músicas encaixam perfeitamente nas cenas do longa. Apesar da banda negar, a experiência é realmente muito interessante e inusitada.

Montagem une fotografia clássica do elenco do filme com capa do disco - Divulgação / Monty, 2006

Montagem une fotografia clássica do elenco do filme com capa do disco – Divulgação / Monty, 2006

Star Wars

Outra grande lenda que envolve O Mágico de Oz é a que diz o quanto Star Wars se baseou na história para criar seus personagens principais. C3PO por exemplo é muito parecido com o Homem de Lata, Chewbacca (nas devidas proporções) se parece com o Leão Covarde, assim como R2-D2 não se diferencia muito de Totó.

As características de origem e personalidade dos personagens humanos também se assemelham. Han Solo tem uma honestidade típica do Espantalho, e Luke, assim como Dorothy, deixa sua casa para uma aventura. Além disso, ambos os protagonistas têm três figuras maternais/paternais. Dorothy tem duas bruxas más e uma boa, enquanto Luke tem Ben, Vader e o pai idealizado por ele.

Confira a seguir: Por que existem espelhos nos elevadores?

Você imaginava tantas coisas por trás de O Mágico de Oz?