Ao longo da história, a Igreja Católica teve 267 papas e, nessa quinta-feira (8), o mundo conheceu o novo líder. Após a tradicional fumaça branca sair da chaminé da Capela Sistina, o cardeal Robert Francis Prevost foi anunciado como o novo papa, adotando o nome de Leão XIV. Assim como Francisco (1936-2025), ele mantém uma visão progressista. Porém, ao contrário dos últimos papas – argentino e americano -, conhecidos por sua santidade, humildade, preocupação com os pobres e compromisso com o diálogo inter-religioso, alguns outros pontífices não foram tão ‘santos’ assim.

Papa Francisco e papa Leão XIV - Foto: Reprodução

Papa Francisco e papa Leão XIV – Foto: Reprodução

Papas especialmente ruins praguejaram a Igreja do século 10 ao 16. Nessa época, havia uma intrínseca promiscuidade entre a política dos nobres e a da Igreja, e pessoas sem qualquer formação religiosa — ou sequer interesse na vida religiosa — podiam chegar ao Trono de Pedro. A corrupção desses papas seria um dos motivadores da Reforma Protestante. E a Reforma mudaria a dinâmica do poder entre reis e papas, também pondo uma enorme pressão sobre a Igreja Católica, encerrando a era dos escândalos. Conheça, a seguir, os piores papas da história!

Urbano VI (1378-1389), o papa da Guerra

Papa Urbano VI - Foto: Wiki

Papa Urbano VI – Foto: Wiki

Urbano VI (1378-1389) é visto por muitos historiadores como a o completo oposto do que um cristão deveria ser. Não à toa, era visto como arrogante, violento e imprudente. Além do mais, suas decisões eclesiásticas foram questionáveis e desastrosas. Seu papado também foi marcado por apoiar a guerra, visto que ele drenou recursos da Igreja para financiar a ‘Guerra dos Oito Santos’ — conflito entre as províncias florentinas e os estados papais.

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Além disso, Urbano VI também presidiu uma grande cisma na Igreja Católica Romana em 1378, que resultou no surgimento de papas rivais paralelos; período que durou quase quatro décadas. O The Independent também aponta que o pontífice era tão agressivo que, ao descobrir uma conspiração para depô-lo, mandou prender e torturar todos os membros da Igreja Católica que o rejeitavam.

Na ocasião, o papa ainda teria reclamado com os torturadores que os gritos dos cardeais não eram altos o suficiente. Urbano VI morreu em decorrência dos ferimentos sofridos ao cair de sua mula, segundo o The Collector. Alguns suspeitavam que ele também tivesse sido envenenado.

Leão X (1513-1521), o papa das indulgências

Papa Leão X – Foto: Wiki

Papa Leão X – Foto: Wiki

Vindo da família Medici, Leão X (1513-1521) se tornou papa por influência familiar. Ele foi criado desde criança para a carreira religiosa e seu papado ficou marcado pela ostentação. Logo após o início do mandato, mandou uma criança desfilar em Roma, na Itália, anunciando uma nova “Era Dourada”. O menino morreu, mas a festa continuou.

Durante o período em que esteve no posto, arruinou os cofres da Igreja com gastos em arte e arquitetura. Sendo assim, para garantir poder e arcar com seus custos, passou a conceder indulgências — quando o pecado de uma pessoa é amenizado em troca de boas ações, doações a organizações de caridade, orações específicas e peregrinação — em troca de dinheiro.

Assim, conseguiu reconstruir a Brasílica de São Pedro. Apesar disso, o abuso da prática em nome da Igreja contribui para que ele enchesse os próprios bolsos com grande parte do dinheiro de doações.

A prática de Leão X era tão controversa que foi criticado por Martinho Lutero; o que fez crescer o movimento Protestante. Ele não conseguiu conter a reforma no exterior, mas localmente conseguiu capturar as cobiçadas províncias de Parma e Piacenza e declará-las parte dos Estados Papais.

Sisto IV (1471-1484), o papa inquisidor

Papa Sisto IV – Foto: Wiki

Papa Sisto IV – Foto: Wiki

Sisto IV (1414-1484) se destacou como patrono das artes. Não é para menos, visto que seu papado foi responsável pela construção da Capela Sistina e a Biblioteca do Vaticano, além dele ter ordenado a criação da Universidade de Uppsala, na Suécia — a primeira universidade escandinava, segundo o The Collector.

Responsável pelo florescimento do Renascimento, ele possui uma parte sombria em seu papado: ajudou a fundar a Inquisição Espanhola. O que levou à tortura, execução e expulsão de milhares de judeus e muçulmanos que não se convertessem ao catolicismo.

Além da conversão violenta, Sisto IV também ficou marcado por casos de nepotismo e garantia que os cargos de poder fossem ocupados por amigos e familiares de confiança. Em treze anos de pontificado nomeou 34 novos cardeais (o limite naquela época era de 24). A extravagância passou a ser característica da corte papal. Ele, inclusive, participou de uma conspiração para depor a poderosa família Médici em Florença.

Paulo IV (1555-1559), o papa antissemita

Papa Paulo IV – Wikipédia, a enciclopédia livre

Papa Paulo IV – Foto: Wiki

Paulo IV é considerado o pior papa do século 16. E não é para menos, visto que ele não só estava alheio ao progresso artístico e intelectual de sua época, como diversas vezes chegou a sugerir que derrubaria a Capela Sistina. Segundo o The Collector, ele introduziu uma censura severa que proibia certos livros que ele considerava errôneos. Porém, embora isso seja escandaloso, não chega nem perto de sua pior crueldade: a criação do Gueto Romano — um local de pobreza onde os judeus eram confinados.

Lá, os judeus eram obrigados a trabalhar em empregos mal remunerados, também precisavam pagar um imposto anual para viver no gueto e eram obrigados a se submeterem a atos humilhantes para agradar os cristãos. Tudo isso pelo “privilégio” de permanecer em Roma. Caso um judeu desejasse viajar para fora do gueto, ele era obrigado a usar um chapéu amarelo — e as mulheres véus da mesma cor. Vale ressaltar que o amarelo, tradicionalmente, era associado às prostitutas. Os muros do gueto só foram demolidos em 1888.

A revolta era tanta contra Paulo IV que o povo de Roma sofreu muito e o responsabilizou por isso. Assim, quando surgiram os boatos de que ele estaria em seu leito de morte, multidões se reuniram e começaram a se revoltar, derrubando suas estátuas ou colocando chapéus amarelos sobre elas. Os romanos também rasgaram o emblema de sua família por toda a cidade e entoaram canções zombando dele. Quando ele morreu, a preocupação de sua família foi tamanha que eles realizaram os ritos e o enterro às pressas, temendo que o corpo e o túmulo fossem dizimados.

Alexandre VI (1492-1503), o papa da Família Bórgia

Papa Alexandre VI – Foto: Wiki

Papa Alexandre VI – Foto: Wiki

No final do século XV, Rodrigo Bórgia, que adotou o nome de Alexandre VI ao se tornar papa, trouxe grande infâmia ao papado. Vindo de uma família poderosa e já envolvida em muitas controvérsias, Alexandre VI não apenas perpetuou, mas também intensificou a reputação corrupta dos Bórgia.

Ele usou seu poder para favorecer seus filhos e parentes, nomeando-os para cargos importantes dentro da Igreja, prática que minou a confiança na instituição e gerou um ambiente de corrupção e abuso de poder. Alexandre VI foi também conhecido por eliminar seus inimigos de maneira implacável, recorrendo ao assassinato e à manipulação política para garantir o domínio de sua família sobre vastos territórios.

Seu papado foi tão corrupto que se tornou um símbolo do declínio moral da Igreja durante a época do Renascimento. As ações de Alexandre VI não apenas mancharam o papado, mas também contribuíram para a crescente insatisfação que culminaria na Reforma Protestante.

Além disso, Rodrigo Bórgia levou uma vida distante da carreira religiosa e chegou a ter um relacionamento com a romana Vanozza dei Cattanei, com quem teve quatro filhos: João, César, Godofredo e Lucrécia Bórgia. Não bastasse isso, nutriu uma vida de lascívia, mantendo relacionamentos também com outras mulheres da nobreza e com prostitutas. Ao longo da vida, teve inúmeros filhos bastardos.

Entre os rumores mais escandalosos do período estão as acusações de incesto envolvendo Alexandre VI e seus filhos. Embora nunca comprovadas, havia suspeitas de que ele mantinha uma relação inadequada com Lucrécia Bórgia, sua filha.

Bonifácio VIII (1294-1303), o papa ateu

Papa Bonifácio VIII - Foto: Reprodução

Papa Bonifácio VIII – Foto: Reprodução

Nascido Benedetto Caetani, o Papa Bonifácio VIII comandou a Igreja Católica de 1294 até sua morte, em 1303. Entrou para a História como um dos piores papas, esteve envolvido em conflitos internacionais e declarou seu poder como absoluto. Após assumir o trono, Bonifácio prontamente ordenou o exílio de seu antecessor, Celestino V, que morreu dois anos depois, aos 81 anos, no castelo de Castelo de Fumone, em Ferentino, na Itália.

Bonifácio VIII promoveu cruzadas na Europa e, após a família Colonna acusar a eleição papal de ter sido fraudulenta, deu início a uma guerra. O papa então, com seu exército — que havia capturado as cidades de Colonna e Palestrina — ofereceu um acordo de paz para as regiões que se rendessem. As tropas da Igreja não cumpriram com o combinado. A cidade de Palestrina foi saqueada e queimada, o que resultou em seis mil mortos. Apenas as catedrais foram poupadas.

Levado para cativeiro, Bonifácio, com 73 anos, foi espancado e quase morto, mas depois de três dias foi libertado. Morreu um mês depois de febre, em outubro de 1303. Foi enterrado dentro de três caixões: o externo de madeira, o do meio de chumbo e, o interno, de pinho. A personalidade do papa é ainda lembrada como explosiva e controversa. Ele teria em um episódio jogado cinzas nos olhos de um bispo que aguardava para receber a benção na cabeça.

Segundo o historiador britânico John McCabe, Bonifácio era ateu e teria afirmado diante de bispos, arcebispos e um rei: “Nunca existiu Jesus e a hóstia é só água e farinha. Maria não era mais virgem que minha própria mãe e não existe mais problema em adultério que em esfregar uma mão na outra”. 

Clemente VII (1523-1534), o último Papa insensato da Renascença

Papa Clemente VII – Foto: Wiki

Papa Clemente VII – Foto: Wiki

Escolhido em 19 de novembro de 1523, Giulio di Giuliano de Médici, subiu ao trono e recebeu o nome de Clemente VII. Era filho bastardo de Juliano de Médici, e também primo do Papa Leão X. Como papa foi um desastre de proporções surpreendentes. Poucas vezes na história a Igreja Católica passou por uma humilhação tão grande quanto a proporcionada.

O religioso causou a Guerra da Liga de Cognac, conflito de franceses e italianos contra espanhóis e alemães. Com isso, em 1527, um grupo invadiu Roma por falta de pagamento e saqueou a cidade. Os invasores hispanos-germânicos romperam os muros e entraram na cidade. Os soldados assaltaram casa a casa, matando no ato quem esboçasse a menor resistência. As mulheres eram violentadas sem consideração à idade que tivessem.

Padres, monges, e outros religiosos foram liquidados com requintes de brutalidade; as freiras, arrastadas aos bordéis ou alugadas aos soldados nas ruas. Eles devastavam os palácios e depois incendiavam-nos. Igrejas e mosteiros foram saqueados em busca de tesouros; relíquias, depois de retiradas suas coberturas preciosas, eram jogadas fora.

Durante semanas Roma queimou em meio ao fedor de corpos insepultos e destroçados pelos cães. A ocupação prolongou-se por nove meses, causando danos irreparáveis. Estimativas calculam que dois mil cadáveres foram jogados no Tibre, 9800 conseguiram sepultamento, com saques estimados entre três e quatro milhões de ducados.

Somente quando a peste apareceu e a comida acabou, deixando uma população faminta, as hordas retiraram-se do “matadouro fedorento” em que haviam transformado Roma. Após uma refeição, Clemente VII passou mal e morreu em 1534. O povo de Roma culpava o falecido pela desgraça da cidade, ocorrida sete anos antes. Violaram seu túmulo, enfiaram-lhe uma espada no peito e o despedaçaram completamente.

Inocêncio IV (1243-1254), o papa da bula Ad Extirpanda

Inocêncio IV - Foto: Reprodução

Inocêncio IV – Foto: Reprodução

Este não foi condenado por seus contemporâneos. Não se envolveu em nenhum escândalo e o que fez era considerado perfeitamente sensato. Mandou confiscar e queimar todos os talmudes – o livro sagrado extra-bíblico dos judeus – mas tentou evitar que eles fossem linchados pelo populacho e exigiu que os cruzados não os massacrassem.

Mas a parte mais influente de seu legado seria a bula Ad Extirpanda, de 1252. Ela autorizou e regulamentou o uso de tortura pela Inquisição. A regra era que não podia haver mortes ou amputações, e que as execuções seriam feitas por autoridades seculares. Estas podiam confiscar a propriedade como ressarcimento pelo serviço prestado. Não é difícil imaginar a que isso levou: condenações por “heresia” por puro interesse econômico.

João XII (955-964), o papa dos castigos sangrentos, sacrilégios e adultérios Papa João XII – Foto: Wiki

Papa João XII – Foto: WikiApós a morte do papa Agapito II, o rapaz Otaviano, de 18 anos tornou-se João XII, em 955. Ele reivindicou os direitos temporais do cargo e passou a visto como um homem imoral, que transformou a maior instituição da Igreja num recinto de fama duvidosa e corrupta, gerando grande insatisfação.

Num sínodo, em 963, recebeu diversas acusações. Teria fornicado, incluindo com sua sobrinha; estuprado peregrinas; castrado um padre e cegado outro; feito brindes aos deuses e ao diabo. Convocou um sínodo para declarar a si mesmo inocente e mandou mutilar ou matar seus acusadores. Acabou morto por um marido ciumento de uma das vítimas.

Estêvão VI (896-897), o papa que levou o cadáver apodrecido de seu antecessor a julgamento

Papa Estevão, o papa que levou o cadáver apodrecido de seu antecessor a julgamento - Foto: Wiki

Papa Estevão VI, que levou o cadáver apodrecido de seu antecessor a julgamento – Foto: Wiki

No começo de 897, o papa Estevão VI tomou uma atitude excêntrica: ordenou a exumação de seu antecessor, Formoso, morto nove meses antes do outro tomar posse. No evento conhecido como Sínodo do Cadáver, o corpo do papa-defunto, vestido de insígnias e ornamentos, foi julgado e condenado por excesso de ambição.

Estevão excomungou Formoso, que foi despido de suas vestes papais e teve amputados os dedos da mão direita – utilizado para abençoar os fiéis -, para que todas suas bênçãos fossem consideradas inválidas. Seu corpo ainda foi atirado no Rio Tibre, uma pena que fazia parte de inúmeras condenações a criminosos na época.

Depois do ocorrido, a popularidade de Estevão foi para o fundo do Tibre junto com o corpo de Formoso. Ele foi deposto numa rebelião e estrangulado até a morte, ainda em 897. No ano seguinte, o novo papa João IX anulou o sínodo cadavérico no Concílio de Ravena e ordenou o retorno do corpo de Formoso, resgatado do rio, à tumba, na Basílica de São Pedro.

Sérgio III (904-911), o papa da pornocracia

Papa Sérgio III - Foto: Wiki

Papa Sérgio III – Foto: Wiki

Julgar cadáveres não era suficiente para Sérgio, que mandou executar seus dois antecessores – papa Leão V e antipapa Cristóvão. Mandou desenterrar outra vez o pobre Formoso, anulou novamente todas suas decisões e providenciou um túmulo mais honrado para Estêvão, que havia morrido em desgraça.

Era também um grande festeiro: seu papado foi o início da “pornocracia”, o domínio das prostitutas com que os papas se cercavam. Com uma delas, Sérgio teve um filho, que se tornaria o papa João XI – já citado nesta lista.

Confira a seguir: Cardeal brasileiro já foi eleito para ser Papa, mas recusou; saiba o motivo.

Você conhecia esses papas?