A queda da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, mobilizou autoridades, especialistas e familiares. Ela estava desaparecida desde sexta-feira (20), após escorregar e cair de um penhasco na região do vulcão. Entenda os fatores que podem ter levado ao acidente e os desafios enfrentados nas tentativas de resgate.

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Falha na conduta do guia
Segundo Ion David, guia de turismo da Associação Veadeiros, houve erro grave de conduta do guia indonésio que acompanhava Juliana. De acordo com ele, deixar um turista para trás em uma trilha é uma infração séria aos protocolos de segurança:
“O guia nunca deve deixar ninguém para trás para descansar, ainda mais numa trilha que apresenta riscos, pois ele tem que estar sempre junto do visitante ou dos visitantes. Se, por acaso, tem um grupo e ficou um visitante para trás, a responsabilidade do guia é parar e aguardar para que todos os visitantes estejam juntos”, destacou.
Ion afirma que o profissional tem como função garantir a integridade do grupo, o que exige atenção constante: “Na real, nesse ponto aí o guia realmente cometeu um grande engano, uma grande falha”.
Juliana teria se afastado do grupo logo após um momento de descanso, e foi nesse momento que ela tropeçou e caiu em uma área de difícil acesso.
Procedimentos de segurança ignorados
O guia também teria falhado no cumprimento dos procedimentos padrão de monitoramento dos turistas durante a trilha, como explica Ion David:
“Quando um turista, um visitante ou um grupo contrata um guia, ele está se responsabilizando primeiramente pela segurança do grupo, então ele é responsável inclusive por conhecer e dominar toda a área que está sendo visitada, conhecer os caminhos, conhecer toda a região. Ele é a pessoa responsável por essa segurança”.
“Ele tem que estar sempre em contato visual com todos os visitantes que está guiando. No caso de um turista seguir à frente desse guia, ele tem sempre responsabilidade de avisar para o visitante um lugar que ele deve parar para poder aguardar, se tiver alguma dúvida”.
Além disso, o guia deveria ter feito uma leitura do grupo antes da trilha: “O guia tem a responsabilidade de fazer uma leitura corporal do pessoal. Se ele está percebendo que tem alguém cansado, ou não se sentindo bem, ele deve parar para ajudar essa pessoa, e nunca deixar o grupo se dividir”.
A condição física e psicológica dos visitantes também deve ser levada em consideração: “O guia deve ser capaz de identificar a aptidão do pessoal, do grupo, dos visitantes, para poder fazer uma determinada trilha, uma determinada atividade”.
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Dificuldades no resgate
Juliana aguardava socorro há quatro dias após o acidente. Segundo a família, o resgate foi interrompido temporariamente por conta das condições climáticas desfavoráveis. As equipes de busca enfrentaram uma série de obstáculos, como explicou Paulo Guimarães, médico especialista em primeiros socorros e com experiência em operações de salvamento em áreas de risco:
“Quando as equipes chegaram ao local, ela não estava onde o drone capturou as imagens. Então, inicialmente, é busca, até encontrar. Depois que a vítima é encontrada, iniciam-se as operações de salvamento e resgate”.
O cenário geográfico da região também representava um desafio: “Ela estava numa região de vulcão, onde tem uma série de intempéries da natureza, uma série de adversidades, do ponto de vista de meteorologia, inclusive, que o solo é extremamente rochoso, montanhoso, de difícil acesso, é um penhasco”.
Outro fator técnico importante apontado pelo médico é a necessidade de segurança para os socorristas: “Pode ser preciso perfurar uma rocha, que pode ser muito mole ou muito dura. Então, dependendo da situação, a gente precisa colocar dispositivos de ancoragem para poder amarrar esses resgatistas numa linha de vida para que eles possam ter segurança para descer até o local onde se encontra a vítima”.
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Limite para operações aéreas
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Embora pareça simples acionar helicópteros para esse tipo de resgate, Paulo Guimarães ressalta que, em regiões vulcânicas, o uso dessas aeronaves pode ser inviável: “Às vezes o único acesso para um local como esse é a pé. Você não tem condição de, por exemplo, se aproximar do local com uma aeronave de asa rotativa, com um helicóptero, por exemplo”.
O ar superaquecido da região também compromete o voo: “O próprio helicóptero não consegue se aproximar por não ter sustentação naquele ar atmosférico superaquecido, o que traz uma dificuldade extra para o resgate”.
Por fim, o médico destaca que a segurança dos profissionais envolvidos na operação deve ser prioridade: “Precisa garantir a segurança das equipes de resgate, pois de nada adianta você tentar salvar uma vítima de acidente e comprometer a vida de dez profissionais das equipes de resgate. Então, se for muito arriscado para as equipes de resgate, se pode comprometer a vida dos resgatistas, eles recuam”.
A Profundidade do Acidente: 900 Metros que Impressionam
Juliana Marins caiu em uma região de difícil acesso no Monte Rinjani, e, segundo estimativas das autoridades locais, ela estaria a cerca de 900 metros abaixo do ponto de onde se separou do grupo. Para dimensionar o desafio do resgate e o tamanho do abismo em que ela se encontra, alguns comparativos ajudam a visualizar essa profundidade.
Um gráfico divulgado recentemente destaca que os 900 metros de profundidade equivalem a:
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Mais de duas vezes a altura do Empire State Building, em Nova York (443 metros, incluindo a antena).
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Quase três vezes a altura da Torre Eiffel, em Paris (330 metros).
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Aproximadamente a mesma altura que três Torres do Burj Al Arab, em Dubai (321 metros cada).
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Cerca de dez vezes o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (38 metros de altura da estátua; 709 metros incluindo o morro do Corcovado).
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Essa comparação impressiona não apenas pela dimensão vertical da queda, mas também pela complexidade do terreno, formado por paredões rochosos, encostas instáveis e clima imprevisível, o que torna o resgate ainda mais arriscado para as equipes em campo.
A localização extrema e a profundidade em que Juliana estava tornaram a operação uma das mais delicadas já enfrentadas por equipes de salvamento em regiões de vulcões ativos na Indonésia.
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