A brasileira Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada morta nesta terça-feira (24) após cair em uma encosta do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia. A tentativa de resgate aconteceu quatro dias depois da queda. A causa exata da morte ainda não foi divulgada, porém, Juliana permaneceu presa no local, sem abrigo, com fome, frio e sede – potenciais causas da fatalidade.

Juliana Marins – Foto: Reprodução
Considerado um dos pontos mais perigosos da trilha, a região combina declives acentuados, terreno solto e ausência de proteções. A altitude do ponto onde ela caiu está entre 2.600 e 3.000 metros, com forte variação climática ao longo dos dias. Após a confirmação da morte da brasileira, surgem as primeiras hipóteses sobre o que pode ter levado ao desfecho.
Privação de comida e água
Calcula-se que, em média, o corpo humano consiga sobreviver semanas sem comida, mas a maioria das pessoas só permanece viva de 2 a 4 dias sem água. Não existem estudos científicos sobre o assunto, pois seria antiético submeter pessoas a estas condições. A maioria das pesquisas nessa área envolve estudos de caso de pessoas em situações de sobrevivência de emergência.
O tempo que se sobrevive sem comida depende de uma variedade de fatores, incluindo o sexo, a composição corporal, a última coisa que foi ingerida e o ambiente. Por exemplo, pessoas com mais reservas de gordura podem sobreviver por mais tempo, pois o corpo pode queimar a gordura armazenada como combustível em momentos de fome extrema.
Pesquisas sobre greves de fome e jejum voluntário examinaram casos em que as pessoas tinham água, mas não tinham comida. Em três casos, as pessoas passaram 28, 36 e 38 dias sem comer, antes de ficarem doentes demais para continuar com as greves.
Já outros casos, aqueles em greve de fome morreram após 45 a 61 dias sem comida. Em geral, indivíduos saudáveis e magros experimentam graves efeitos de fome quando perdem 18% de seu peso corporal ou atingem um índice de massa corporal inferior a 16,5 – considerado gravemente abaixo do peso.
Mais detalhes
Normalmente, as mulheres podem suportar a fome por mais tempo do que os homens e sobreviver com um IMC mais baixo. Isso pode ser devido ao fato de que as mulheres naturalmente têm uma porcentagem maior de gordura corporal, mas também porque seus corpos tendem a usar gordura em vez de músculo magro para obter energia durante os períodos de fome.
Quanto a água, o tempo é menor. Estima-se que as pessoas só possam sobreviver de 2 a 4 dias sem se hidratar. Em 1944, dois cientistas se abstiveram de beber água enquanto comiam uma dieta seca que continha todos os nutrientes necessários. Um durou 3 dias e o outro durou 4 antes de terem que interromper o experimento.
Embora o corpo possa quebrar a gordura para usar como fonte de energia no lugar a alimentação através da cetose, não há processo interno para compensar a falta de hidratação. Poucas horas depois de não beber, você pode começar a sentir sintomas de desidratação, como sede, tontura, pele seca, confusão mental, aceleração dos batimentos cardíacos e falência do fígado.
Hipotermia
A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal fica perigosamente baixa. Em locais de altas altitudes, como o Monte Rinjani, onde faz frio, o organismo perde mais calor do que o que consegue produzir. O vento contribui para a perda de calor, assim como quando uma pessoa se senta numa superfície fria ou está imersa em água.
De acordo com o Manual MSD, as pessoas com maior risco de hipotermia são as que ficam imóveis num ambiente frio. Devido a imobilidade, o corpo gera menos calor. Por isso, o risco é maior de sofrer hipotermia mesmo que a temperatura circundante não esteja excessivamente baixa (cerca de 13 a 16 °C).
Quadros de hipotermia:
- Inicial (32°C a 35°C): Tremores intensos para gerar calor, taquicardia, vasoconstrição periférica.
- Intermediária (28°C a 32°C): Redução dos tremores, bradicardia, diminuição da consciência, confusão mental, arritmias.
- Grave (<28°C): Parada respiratória, arritmias fatais (principalmente fibrilação ventricular) e morte.
Baixa disponibilidade de oxigênio
Além dos fatores de fome e sede, vale destacar que em pontos de altitudes elevadas, a disponibilidade do oxigênio é menor. Por isso, é possível desenvolver a doença da altitude, que causa sintomas como fadiga, sintomas gastrointestinais e tontura persistente.
O que aconteceu
Juliana Marins sofreu uma queda durante trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, local que abriga o segundo vulcão mais alto do país, com 3.726 metros de altura. A jovem, natural de Niterói, aguardou resgate no local desde as 19h de sexta-feira (20) (horário de Brasília), correspondente às 5h de sábado (21) no horário local.
Juliana Marins – Foto: Reprodução
Operações de resgate mais eficazes só aconteceram na segunda-feira (24) após uma mobilização de brasileiros, com o apoio do Itamaraty, para retirarem a publicitária do local. Durante todo o período em que esteve isolada, a jovem não recebeu alimentos, água e roupas, o que gerou revolta entre os familiares que acusam as autoridades da Indonésia e do parque de descaso.
O acidente aconteceu enquanto Juliana realizava um mochilão pela região. A queda deixou a publicitária em uma área de difícil acesso no terreno acidentado do Monte Rinjani, que mesmo em trilhas guiadas apresenta riscos para os caminhantes.
Confira a seguir: [VÍDEO] Corpo de Juliana Marins é içado e resgatado de vulcão na Indonésia; veja.
Nossos sentimentos à família de Juliana.