Pietro Pirani, publicitário brasileiro que vive na Islândia há dois anos, começa sua jornada de trabalho por volta das 9h30 em uma agência de publicidade. Às 16h30, ele já encerrou o expediente, algo que define como um verdadeiro privilégio. “Aqui, consigo fazer coisas durante a semana, depois do trabalho. No Brasil, eu só via a vida passar e, no fim de semana, tinha que escolher entre descansar ou aproveitar o tempo. Isso mudou completamente”, conta.

Na Islândia, grande parte dos trabalhadores opera sob um regime de até 36 horas semanais, definido por negociações sindicais. Essa jornada pode ser distribuída de várias formas: trabalhar oito horas por dia durante quatro dias e encurtar as sextas-feiras, ou dividir o tempo igualmente ao longo da semana, com 7h12 diárias. Outra opção é tirar um dia inteiro de folga a cada duas semanas, segundo o Ministério dos Assuntos Sociais e do Trabalho do país.

Pietro e Kellen moram na Islândia desde 2022 — Foto: Pietro Pirani/Divulgação

A Jornada Reduzida: Origem e Sucesso

Essa realidade começou a se desenhar em 2015, quando o governo islandês e a Câmara Municipal de Reykjavik implementaram um experimento para testar jornadas mais curtas sem redução salarial. O objetivo era aumentar a produtividade, que na época era inferior à de outros países nórdicos. Miriam Guerra Massom, brasileira há 21 anos no país, participou do experimento enquanto trabalhava no Departamento de Imigração. “Passamos de 40 para 36 horas semanais. Nas sextas, o atendimento ao público passou a fechar mais cedo. Em outros setores, podíamos escolher quando sair mais cedo, desde que avisássemos previamente”, relembra.

O experimento foi um “sucesso esmagador”, conforme estudo de 2021 do instituto britânico The Autonomy. Segundo o relatório:

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  • Produtividade e qualidade dos serviços: Permaneceram iguais ou melhoraram na maioria dos casos.
  • Bem-estar dos trabalhadores: Houve menos estresse e um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Esses resultados incentivaram negociações sindicais, que garantiram jornadas reduzidas para cerca de 86% dos trabalhadores da Islândia, incluindo o setor privado.

Brasileira, Miriam mora na Islândia há 21 anos e construiu sua família no país europeu — Foto: Miriam Guerra Massom/Divulgação

Impactos no Longo Prazo

Uma análise recente do The Autonomy, publicada em outubro, destacou que a Islândia teve um crescimento anual de 1,5% na produtividade do trabalho nos últimos cinco anos, o maior entre os países nórdicos. A economia também se manteve sólida, impulsionada pelo turismo e por fontes renováveis de energia.

Porém, nem todos os trabalhadores conseguiram aderir ao regime de 36 horas. Entre 2021 e 2022, 36% dos trabalhadores islandeses ainda cumpriam mais de 41 horas semanais, especialmente em setores como hotelaria, pesca, agricultura e transporte. Além disso, algumas empresas enfrentaram custos extras ao contratar mais funcionários para compensar as horas reduzidas.

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Apesar desses desafios, Jack Kellam, diretor de operações do The Autonomy, avalia o modelo de maneira positiva. “A redução de jornada não causou os problemas econômicos que muitos temiam. A economia está forte e os trabalhadores estão satisfeitos. É um exemplo promissor para o mundo”, conclui.

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